Sobre o filme O homem irracional de Woody Allen

A afirmação adorniana de que após Auschwitz toda cultura é lixo não perde sua atualidade. Se, de um lado, a frase implica que a cultura não vale mais nada, de outro quer dizer que “lixo” é a melhor categoria explicativa da cultura como “aquilo que se rejeita”.

(A nova moral do funk. Marcia Tiburi. In:< http://revistacult.uol.com.br/home/2011/11/moral-funk/>)

Qual deve ser o papel da filosofia no mundo? Manter-se distante dos casuísmos da vida cotidiana, utilitarista e adaptativa, que cobra ao filosofo conformação aos costumes e morais citadinos ou, sob risco de banimento, manter-se fiel aos seus próprios princípios e métodos?

O dilema kantiano sobre o suposto direito de mentir por amor à humanidade deve ser interrogado no limite da ação assassina: é suposto ter o direito de matar por amor à humanidade? Para kant, mentir seria tão imoral, portanto, tão inaceitável quanto matar, indiferentemente de ser a vitima uma criança ou um nazista.

Mas, uma leitura sobre a questão colocada pelos existencialistas refere-se a que a verdadeira liberdade só é atingida lá onde se pode agir, se escolhe agir. Então, perguntaríamos: apartando-se de qualquer moral vigente, mesmo a que diz que não se deve matar?

Escolher e agir em função desta escolha tem como consequência a assunção das responsabilidades adquiridas por ser livre. Afinal, liberdade não implica estar absolutamente só, não implica, inclusive, estar preparado para não obter o reconhecimento dos outros por este ato que se escolheu praticar...?

O que os moralistas mais querem é a morte da filosofia, mesmo que seja por assassinato, por envenenamento, por intoxicação através de seus costumes sofistas adicionados aos sucos de laranja.... Cabe à filosofia e aos filósofos, em nome de seus princípios e métodos, não se deixar contaminar..., afinal filósofos não são psicopatas ou qualquer outro tipo de desvio de personalidade e conduta como o senso comum insiste em apregoar.

Cabe, assim, à filosofia, à ação filosófica, assumir seu lugar de direito na comunidade humana, lugar que não precisa ser comum, embora na praça pública, lugar que não precisa ser necessariamente no banco dos réus...Lugar, portanto, que precisa ter humildemente claro para si quais são os limites da boa ação...

p.s. Caberia perguntar se o estado pode matar em nome de todos.

Abenon Menegassi

SP 01/01/2016