A Hollywood Bolchevique (publicado originalmente em 10/11/2015)
Sempre fui fã de filmes políticos. Na maioria das vezes são feitos fora dos EUA. Tomem como os exemplos os excepcionais ‘Z’ (1969), ‘No’ (2012). Duas gerações totalmente distintas e igualmente competentes em seu propósito. Mas Hollywood, de vez em quando, roda um destes. ‘Reds’ (1981) tornou-se ícone porque o diretor, ator e roteirista Warren Beatty pescou para si o personagem real John Reed. Jornalista e ativista norte-americano, ficou famoso mundialmente por sua cobertura da Revolução de Outubro na Rússia, em que os bolcheviques tomaram o poder. Seu livro ‘Os Dez Dias que Abalaram o Mundo’ virou referência histórica para muitos. E ‘Reds’ mostra o homem, as suas paixões políticas e jornalísticas, e o envolvimento com a escritora feminista Louise Bryant.
Com duração de 3h15min, ‘Reds’ paira pelo início do século 20 dos EUA, período no qual J. Reed está no jornal ‘As Massas’, até a fundação do Partido Comunista dos Estados Unidos. L. Bryant é a atriz Diane Keaton. Bela, faceira, libidinosa, Diane talvez ali desenvolva seu melhor desempenho, só comparável aos orientados sob os olhares de Woody Allen. Também segura bem a rica vida da escritora, com charme contado, delicado, forte ao mesmo tempo. Jack Nicholson, um dos grandes amigos de W. Beatty, aceitou o papel de Eugene O’Neill, dramaturgo anarquista que teve um caso com Louise enquanto a moça estava ‘casada’ com J. Reed. Cínico e persuasivo, caiu bem à fachada dele, na tela com um bigode que manteria em ‘Fronteira da Violência’ (1982), filmado logo depois.
O teor político, de debate, em ‘Reds’ são filmados em planos-sequência que faz babar os cinéfilos e os entendedores de História. Aí estão os melhores instantes. As ideias transmitidas são curiosas, pois o ano de lançamento bateu justamente com o da posse de Ronald Regan, o ator republicano que se tornou presidente e governou até 1989. Indicado a 12 Oscars, levou 3: diretor para Beatty, atriz coadjuvante a Maureen Stapleton (não entendi este – a interpretação não tem nada demais) e fotografia, estupendamente elaborada por Vittorio Storaro. Aliás, um fato raro: é um dos poucos a ser indicado em todas as categorias a que tinha direito. É referência no ramo filme de política e de jornalismo. Ao juntar estes dois temas, e um elenco rico, ‘Reds’ se consagra de modo definitivo.