Os nós certos (publicado originalmente em 6/10/2015)

Dois matadores de aluguel entram numa escola para deficientes visuais. Lá está Johnny North (John Cassavetes). Ele morrerá em instantes, mas não reage. Intrigada, a dupla de criminosos Charlie (Lee Marvin) e Lee (Clu Gulager) procura um amigo do falecido pra investigar. A partir daí a trama de ‘Os Assassinos’ (1964) parte a uma teia onde a aranha é a mais inocente de todas. Ninguém está livre ali.

Os ingredientes de ‘filme noir’ saltam aos olhos. Há a mocinha sensual (é Angie Dickinson na pele de Sheila), o amante machão e bruto (Ronald Regan, sim, o ex-presidente dos EUA, como Jack) e o sub-herói metido a, puxo a brasa ao Brasil, Macunaíma de topete e cigarro no canto da boca (Cassavetes).

O caldo deste caldeirão são carrões em velocidades altíssimas (North ganhava a vida sendo piloto de ralis perigosos), rios e rios de notas de dólares em valises elegantemente trancadas, além, é claro, das pronúncias do texto pelo elenco do mal com as entonações malandras, de propósito, e sem vergonha.

Baseado em um conto de Ernest Hemingway, ‘Os Assassinos’ teve direção de Don Siegel, especialista em fitas deste naipe, máfias, tiros etc. É importante salientar que é difícil montar e dirigir uma trama assim porque as tentações são grandes de se derrapar e esculhambar o script... Para que se dê certo é preciso elenco coeso e de talento preciso para tal tarefa. No caso de ‘Os Assassinos’, tanto Lee Marvin como Gulager estão ótimos e passam ao espectador a tensão criada pelas páginas de E. Hemingway.

R.Regan e Cassavetes têm química boa com Angie, que detém o molejo das fêmeas fatais das telonas. No DVD ainda está de brinde o curta-metragem de mesmo nome rodado pela turma de estudantes. O líder é Andrei Tarkovsky, cineasta russo que na época tinha 27 anos.

Aqui eles usaram takes mínimos de câmeras, com ângulos também bem detalhados. A fita foi realizado no âmbito de sua formação em cinema e junto com os colegas Marika Beiku e Aleksandr Gordon. Composto por apenas 3 cenas, tem 19 minutos e pega a obra literária pelo pé. Explora-a como deve, ao contrário da produção de 1964. Esta possui os temas e a ideologia como pano de fundo, mas com o roteiro bem diferente do livro.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 06/10/2015
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