Público de papel (publicado originalmente em 25/8/2015)
‘A Culpa é das Estrelas’ fez o maior sucesso no ano passado. A palavra ‘sucesso’ aqui quer dizer que o espectador o fez assim – em sua imensa maioria adolescentes do sexo feminino. A atração ‘teen’ teve filho... Até pouco tempo atrás estava em cartaz ‘Cidades de Papel’ (2015), cujo roteiro foi baseado em livro do mesmo autor de ‘A Culpa é das Estrelas’: John Green. E aos 38 anos, o escritor descobriu, ou redescobriu, o filão costumeiro das grandes bilheterias: romancezinho água-com-açúcar e mais nada.
Neste caso, o script conta a história de Margo (a modelo antipática Cara Delevingne), a adolescente que cresceu com a fome de correr perigo e alma de Mulher Maravilha. Ela mora em frente a Quentin (Nat Wolff). Mais ou menos da mesma idade, ele é o oposto: tímido, é medroso, mas completamente apaixonado pela vizinha. É aquela coisa: quando crianças, viveram juntos, brincaram demais, não se largavam. Cresceram, a adolescência é o inferno, a dupla se separou. Margo é bastante independente.
A mocinha de repente foge. Deixa pistas pra Quentin ir atrás dela. Na empreitada de procurar agulha no palheiro, o rapaz junta amigos e faz excursão rumo às tais cidades de papel do título. Elas são, na verdade, pontos fictícios existentes em mapas. O artifício era muito usado por cartógrafos, militares e instituições pra enganar inimigos em épocas de guerra. Este fato curioso motivou Green a escrever as linhas de ‘Cidades de Papel’? Bobagem... Não pensem nos grandes cérebros para os grandes públicos.
Minha intenção aqui é relacionar o título do longa à pessoa que assiste. Somos o público de papel: o descartável, o desprezível, o ignorado, o vitimado. Exige-se a qualidade ou quantidade? Se a resposta for a primeira, desanime-se. E não é porque não estamos prontos pras fitas de impacto, de referência e soberba. A proposta é nos encher de porcaria, como se comêssemos nos ‘fast foods’ diariamente, e na hora em que pedimos ou queremos filmes melhores, estamos empanturrados e nem aguentamos.
‘Cidades de Papel’ tem tudo o que um longa-metragem possui de ruim: os atores são fracos, a direção parece largar a fita no meio. A trama, nem preciso dizer. Onde vamos parar? Nem sei... Responde aí.