Maquinações (publicado originalmente em 4/8/2015)
Muita gente tem falado bem da animação ‘DivertidaMente’, candidatíssima ao Oscar da categoria em 2016. Por esses dias, até a jornalista Barbara Gancia teceu comentários melosos ao desenho. E não é pra menos. A alegoria de como funciona nosso cérebro, com emoções como alegria, tristeza, a raiva, medo e o ‘nojinho’ são o motor das atitudes de uma menina de 12 anos que acabou de se mudar com os pais a uma cidade maior. O script, vívido, precioso, é capaz de tocar ao mais incrédulo espectador.
O emblema é encaixado numa equação bem preparada pela turma de cineastas responsáveis: Peter Docter, o diretor, esteve à frente de ‘Up: Altas Aventuras’ (2009), que dispensa as notas; Ronaldo Del Carmen, co-diretor, participou de ‘Ratatouille’ (2008), de iguais gabações; Josh Cooley, roteirista de ‘Os Incríveis’ (2004). A imaginação atada com qualidade dos diálogos faz de ‘DivertidaMente’ ótima opção não somente para as crianças, mas aos adultos. Há piadas que só gente grande compreenderá.
Trata-se de mais uma parceria Disney-Pixar com requintes da maquinação que cada um de nós tem. Note, por exemplo, as ilhas de Riley, a protagonista. Há a da bobeira, da família, da amizade... O que mais ‘incomoda’, no bom sentido, é sabermos que determinadas memórias, se simplesmente ligadas no interruptor, despertam iras incomensuráveis. São debates a se ter com o psicanalista. No caso de Riley, é a ida a outro Estado que a faz querer fugir de casa... Ela é desprezada pelos colegas de escola.
A parte cômica, simultaneamente graciosa, do longa fica não com o personagem da alegria, mas com os da raiva e da tristeza, que têm situações-chave na trama. A tristeza, com manto e os cabelos azuis, além dos óculos redondos de preocupação, não freia nos instantes de acionar os botões de Riley, por isso precisa ficar distante de tudo o que seja da garota, inclusive das memórias afetivas, a não torná-las depressivas. Mas será mesmo que a raiva e a tristeza não desempenham tarefas ilustres, solenes?
Antes de ‘DivertidaMente’, a sessão exibe o curta animado ‘Lava’, bem feitinho, aliás. É a história do vulcão solitário à procura de uma companheira. É totalmente cantado, mas os dubladores brasileiros são desafinados.