A grandiosidade de 'Fausto' (publicado originalmente em 28/7/2015)

Antônio Abujamra, falecido em abril, adaptou o discurso final de Mefistófeles, de Goethe, para o seu programa ‘Provocações’, da TV Cultura. A primeira vez que o leu creio ter sido em 2000 ou 2001. Tal foi o meu impacto com aquela audição que procurei saber do que se tratava. O caminho foi tortuoso, a internet ainda não era a potência de hoje, mas consegui captar algo. A história de Fausto, o homem desejoso de possuir toda a inteligência e cultura do universo, se rende ao demônio, Mefistófeles, e lhe dá a alma como garantia. Aqui neste espaço inclusive já escrevi tanto sobre Abujamra como ‘Fausto’.

Acontece que o novelo seguiu. E soube depois a existência do filme rodado na Alemanha em 1926 no auge do Expressionismo, dirigido pelo gênio F. W. Murnau. Demorei a achar a película e finalmente a assisti neste 2015. O choque foi grande porque o visual e a fotografia fazem quaisquer espectadores dobrarem os joelhos, tamanho é o espetáculo. Lembre-se que em 1926 Hitler ainda era o sonho bom dos germânicos e o país estava mergulhado numa tremenda recessão. A peça original é de 1806, com sequência que Goethe ‘entregou’ após a morte, em 1832. O universo mudara quase nada desde então.

Gösta Ekman (Fausto), Emil Jannings (Mefistófeles) e Camila Horn (Margarida) sustentam a trama nos papéis principais. No filme, Deus e Satã apostam se o protagonista fará o pacto sinistro. Ao ver a aldeia contaminada pela peste, e temendo por sua morte, Fausto clama ao Diabo a lhe dar juventude eterna. O que ele não imagina é o amor que o consome ao conhecer a jovem Margarida (Gretchen no idioma original). Os dilemas são catalogados de acordo com ambição e a soberba de Fausto. Trata-se duma alegoria macabra e simultaneamente romântica. Há de ter sangue bem quente para vê-la toda.

Isto tudo é depurado por uma beleza cênica ótima pra época e pela elegância de Murnau em filmar o drama em diferentes takes. Somente 5 sobreviveram ao tempo. Há as cenas inesquecíveis: Margarida penando no calabouço com o filho recém-nascido e toda a sua sequência marca todo o mundo.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 28/07/2015
Código do texto: T5326304
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.