Rever muda (publicado originalmente em 21/7/2015)
É engraçado. Já havia lido a respeito, mas nunca tido a experiência. Muita gente escreveu sobre suas mudanças ao reverem filmes anos depois. Há pessoas que alteram de forma brusca a avaliação de tal ou tal fita. Mas comigo jamais ocorrera. Assisti demasiadas vezes a determinados longas e, que eu me lembre, revisar a nota, como implorávamos aos professores, de modo algum mudei a quantidade das estrelas da avaliação. Sigo com o pensamento do que é ruim é ruim e os ótimos sempre serão ótimos.
Coisa banal. Todavia, um dia isto teria de mudar. Muito tempo atrás, não sei com exatidão, vi ‘Amor Além da Vida’ (1998). Detestei. E aí as explicações caem como a fila de dominós. Hoje eu sei que fui o culpado por não ter gostado ou apreciado melhor esta bela história. Talvez o assisti com má vontade ou com sono. Sequer ter prestado a devida atenção também pode ter acontecido. O caso é que nestes dias que passaram revi ‘Amor Além da Vida’. Tentei segurar o choro. E por pouco consegui o intento.
Dirigido pelo neozelandês Vicent Ward, o longa ganhou o Oscar de Melhor Efeito Visual. É claro que ganharia. A beleza estética povoada pelo colorido de uma paleta do pintor mais famoso grita na tela. A trama também nos enlouquece. Chris (Robin Williams) conhece Annie, ambos sentem esse amor à primeira vista e se casam. Têm dois filhos. Formam típica família Doriana. Ele é médico. Ela trabalha com pintura. A tragédia invade as suas vidas quando os rebentos morrem em um acidente de carro.
Annie fica mais abalada do que Chris. Depois de quatro anos, o casal está reerguido, confortado. Mas a calamidade volta a bater à porta: ele também vai embora num acidente automobilístico. Aí a esposa definha-se de vez e comete suicídio. Enquanto o marido está no paraíso rodeado por cores, anjos e a ajuda preciosa dos querubins, ela cai no inferno. Ninguém poderá revê-la. Uma série de reviravoltas sucede e o lema ‘não desistir’ que Chris segurou a vida toda agora é posto à prova. Precisa ter a força.
A caminhada pelo inferno em ‘Amor Além da Vida’ baseia-se nas páginas de ‘A Divina Comédia’ de Dante Alighieri. E nada conto mais para não estragar o bom roteiro da película. Rever muda conceito e agora sei disso muito bem. A fita vale cada minuto.