Mário Lago (publicado originalmente em 14/7/2015)
Há na praça um novo documentário. Tem cheiro de novo, aliás. Lançado em festivais em 2013 e dirigido pela dupla Marco Abujamra e Markão Oliveira, ‘Mário Lago: Homem do Século XX’ já foi exibido no Canal Brasil em março deste ano. Ah, se não fosse a emissora...
O triste é o óbvio: a fita passará em branco pelo grande público. Ter a oportunidade de conhecer a trajetória leve e simultaneamente robusta de Lago é fuçar nos mais relevantes pontos da história brasileira. Eu o conheci em 98, quando a TV Cultura exibiu a entrevista do jornalista Roberto D’Ávila. Desde então procurei acompanhá-lo. A minha sorte foi que em seus derradeiros anos de vida (morreu em maio de 2002, aos 90 anos) Mário Lago trabalhou como um louco e deu muitas entrevistas a diversas emissoras (e chegou a ser homenageado, por exemplo, no ‘Domingão do Faustão’!).
O documentário revela como Lago se comportava na prisão (esteve 9 vezes encarcerado, entre 1932 e 1969). Em comentário emocionado, Lima Duarte exibe com orgulho um elogio do amigo pregado na parede de sua casa. Tony Ramos revê uma cena não menos lacrimejante de ‘Grande Sertão Veredas’ (1985), ao lado do ator e diz: ‘Isso mostra o quanto tem de se estar preparado a fazer uma coisa tão linda dessa’.
Bete Mendes chora ao recordar a confecção do documento de anistia aos artistas, assinado por ela e Lago. Mas o principal personagem da produção é, com a exceção do próprio, o ‘raspa de tacho’ Mário Lago Filho. Aos 59 anos, se transforma, na medida em que os minutos se passam, no ‘substituto’ do pai, se é que a tarefa seja possível. O símbolo é a reprodução de uma foto tirada num café. Aquela pose igual, o gesto igual, quase o rosto igual.
Na obra estão trechos daquela entrevista a D’Ávila que citei, ao professor Pasquele Cipro Neto, pedaços do programa ‘Ensaio’, filmes como ‘Terra em Transe’ (1967) e, claro, as novelas da TV Globo, da qual fez parte por décadas. Estão ali imagens raras de ‘O Sheik de Agadir’ (1966) e os trabalhos mais conhecidos, como ‘O Salvador da Pátria’ (1989) e ‘Barriga de Aluguel’ (1991). As imagens do velório veem com o depoimento de Oswaldo Louzada: ‘Era um sacana. Aproveitou bem a vida!’. Os 90 anos foram de bom tamanho. A moral do documentário muito bem poderia ser esta mesmo.