'Um bonde chamado desejo' (publicado originalmente em 30/6/2015)
O dramaturgo Tennesse Williams tinha 35 anos quando escreveu a famosa peça de teatro ‘Um Bonde Chamado Desejo’. Era 1947 e o elenco chamou a atenção dos produtores de cinema. Foi em 1950 a filmagem do longa adaptado na história e os atores foram praticamente os mesmos. Elia Kazan dirigiu e o quarteto formado por Marlon Brando, Vivien Leigh, Kim Hunter e Karl Malden deu à fita, lançada no ano seguinte, traços de épico. O drama foi um sucesso estrondoso e abocanhou 4 Oscars –3 ao cast (Leigh, Hunter e Malden) e direção de arte. Brando conquistou a indicação apenas.
Nessas idiotices da dublagem, o filme mudou de nome por aqui. ‘Uma Rua Chamada Pecado’ teve contraindicações e foi exibido com cortes por possuir cenas de ‘alta tensão’. Mas para a década de 1950 você pode imaginar o que eram tais sequências. Na trama, Leigh é Blanche. Mulher madura, mas não assumidamente como tal, ela vai até a casa da irmã Stella (Hunter) em busca de abrigo. Sem perspectiva (é alcoólatra, foi expulsa da cidade por seduzir um menor e se esconde atrás duma faceta de cultura e bem vivência), Blanche tem de lidar com Stanley (Brando), o marido grosseiro de Stella.
Pouco a pouco, a rotina do casal é abalada pela presença da paranoica. Blanche tem surtos, e adora provocar o ‘polaco’ com quem divide agora o apartamento. O cotidiano dele, por outro lado, é tão ou mais duro como Stanley: sem alegrias, passa o tempo no trabalho ou na farra com os amigos, para desgosto da esposa. Um destes parceiros, Mitch (Malden) se apaixona por Blanche e começa a pesquisar acerca da vida pregressa da moça. Quando a verdade vem à tona, tudo ao lado deles cai por terra: o casamento, a ilusão, a falsa felicidade, a sinceridade e a ‘boa vontade’. É o desmoronamento.
‘Uma Rua Chamada Pecado’ preenche todos os requisitos do bom filme. Elia Kazan esbanja a conhecida categoria e sua direção é espetacular, com detalhes que só quem viu a película sabe. ‘A Luz é Para Todos’ (1947) tinha sido o filme de Kazan antes. De Brando, era somente o segundo trabalho. Ao lado de ‘A Malvada’, ‘Crepúsculo dos Deuses’ (ambos de 50), ‘Quem tem Medo de Virginia Woolf?’ (1966) e ‘O que Terá Acontecido a Baby Jane?’ (1962), ‘Uma Rua Chamada Pecado’ está nas listas das maiores obras produzidas pelo cinema.
O Instituto dos Filmes Americanos o elegeu como o 47º melhor da história, dentre os 100. Brando, que trabalharia com Kazan no ano seguinte em ‘Viva Zapata!’ (1952), e depois em ‘Sindicato de Ladrões’ (1954), estava estourado na Broadway na pele de Stanley, como os demais. Leigh, ganhadora do Oscar em 1940 por ‘... E o Vento Levou’ interpretou a personagem em Londres. Jessica Tandy faria o papel, mas por questões de bilheteria, por Leigh estar na crista da onda, optou-se por ela.