Charles Chaplin continua
CHARLES CHAPLIN CONTINUA
A pesquisa de cinema pode revelar coisas surpreendentes.
Miguel Carqueija
As definições que encontramos na mídia, sobre os derradeiros trabalhos de cineastas famosos, estão muito incompletas e são pouco confiáveis. Por exemplo, é universalmente afirmado que o último filme do grande Charles Chaplin (1889-1977) foi "A Countess from Hong Kong" ("A Condessa de Hong Kong", EUA/Inglaterra, 1967). Entretanto isto não é verdade, pois constatamos que após esta data ele continuou trabalhando com cinema.
Em primeiro lugar, sabemos que Chaplin, durante muitos anos (pelo menos desde 1942) dedicou-se a relançar seus antigos filmes mudos com acréscimos sonoros e musicais. Assim, em 1968 ele relançou "O circo" (The circus), de 1927, acrescentando uma canção-tema por ele próprio composta e cantada (Chaplin era pau-para-toda-obra). Houve modificação na ficha técnica, que nesta versão apresenta as duas datas. No mesmo ano surgiu a coletânea "Charles Chaplin, o homem mais engraçado do mundo", que ele não produziu nem dirigiu, mas atuou como consultor, inclusive fornecendo uma cópia, que só ele possuía, da curta-metragem "The band", de 1918, incluída na obra.
Nos anos seguintes a imprensa noticiou que o cineasta estava tratando de relançar algumas comédias curtas, em seguida foi a vez de "Tempos modernos" em 1971. Creio que a versão que assisti várias vezes ainda é a antiga, pois não vi nenhum dado acrescentado. Talvez a versão de 1971 não tenha chegado ao Brasil.
Em 1975 surgiu o documentário "The gentleman tramp" (O cavalheiro vagabundo), exibido entre nós como "Chaplin, o genial vagabndo", que mesmo sendo uma coletânea das películas antigas, apresenta, segundo se sabe (porque não cheguei a assistir) uma cena nova, o ator-cineasta, já idoso, dirigindo-se ao público. Assim, este título tem que ser somado à bagagem chapliniana.
Em 1976 ele estava relançando "A mulher de Paris", de 1923, e a imprensa chamou a atenção para este fato: o cineasta ainda trabalhava aos 87 anos.
Chaplin faleceu no Natal de 1977 e em 1982 a BBC londrina lançou "Unknown Chaplin" (Chaplin, o desconhecido), documentário com três horas de duração que, segundo consta, é o resultado de exaustiva pesquisa que levanta imagens pouco conhecidas ou até inéditas, como as hoje famosas no cinema "cenas deletadas" - banais nos filmes modernos mostrados em DVD.
O advento do VHS e depois do DVD motivou um prolongamento póstumo da carreira de Chaplin, pois além das edições nessas mídias das antigas fitas, tivemos muitas coletâneas. Saber se nelas aparecem coisas substancialmente novas (no sentido de inéditas) é um necessário trabalho de pesquisa. Mas temos de lembrar que Chaplin deixou alguns roteiros não filmados e que algum dia podem vir a ser aproveitados, inclusive o que seria um filme de ficção científica, "The freak" (A aberração), projeto que foi revelado ainda em vida do cineasta.
(artigo originalmente publicado em "Portal Entretextos" no dia 5 de outubro de 2010)
CHARLES CHAPLIN CONTINUA
A pesquisa de cinema pode revelar coisas surpreendentes.
Miguel Carqueija
As definições que encontramos na mídia, sobre os derradeiros trabalhos de cineastas famosos, estão muito incompletas e são pouco confiáveis. Por exemplo, é universalmente afirmado que o último filme do grande Charles Chaplin (1889-1977) foi "A Countess from Hong Kong" ("A Condessa de Hong Kong", EUA/Inglaterra, 1967). Entretanto isto não é verdade, pois constatamos que após esta data ele continuou trabalhando com cinema.
Em primeiro lugar, sabemos que Chaplin, durante muitos anos (pelo menos desde 1942) dedicou-se a relançar seus antigos filmes mudos com acréscimos sonoros e musicais. Assim, em 1968 ele relançou "O circo" (The circus), de 1927, acrescentando uma canção-tema por ele próprio composta e cantada (Chaplin era pau-para-toda-obra). Houve modificação na ficha técnica, que nesta versão apresenta as duas datas. No mesmo ano surgiu a coletânea "Charles Chaplin, o homem mais engraçado do mundo", que ele não produziu nem dirigiu, mas atuou como consultor, inclusive fornecendo uma cópia, que só ele possuía, da curta-metragem "The band", de 1918, incluída na obra.
Nos anos seguintes a imprensa noticiou que o cineasta estava tratando de relançar algumas comédias curtas, em seguida foi a vez de "Tempos modernos" em 1971. Creio que a versão que assisti várias vezes ainda é a antiga, pois não vi nenhum dado acrescentado. Talvez a versão de 1971 não tenha chegado ao Brasil.
Em 1975 surgiu o documentário "The gentleman tramp" (O cavalheiro vagabundo), exibido entre nós como "Chaplin, o genial vagabndo", que mesmo sendo uma coletânea das películas antigas, apresenta, segundo se sabe (porque não cheguei a assistir) uma cena nova, o ator-cineasta, já idoso, dirigindo-se ao público. Assim, este título tem que ser somado à bagagem chapliniana.
Em 1976 ele estava relançando "A mulher de Paris", de 1923, e a imprensa chamou a atenção para este fato: o cineasta ainda trabalhava aos 87 anos.
Chaplin faleceu no Natal de 1977 e em 1982 a BBC londrina lançou "Unknown Chaplin" (Chaplin, o desconhecido), documentário com três horas de duração que, segundo consta, é o resultado de exaustiva pesquisa que levanta imagens pouco conhecidas ou até inéditas, como as hoje famosas no cinema "cenas deletadas" - banais nos filmes modernos mostrados em DVD.
O advento do VHS e depois do DVD motivou um prolongamento póstumo da carreira de Chaplin, pois além das edições nessas mídias das antigas fitas, tivemos muitas coletâneas. Saber se nelas aparecem coisas substancialmente novas (no sentido de inéditas) é um necessário trabalho de pesquisa. Mas temos de lembrar que Chaplin deixou alguns roteiros não filmados e que algum dia podem vir a ser aproveitados, inclusive o que seria um filme de ficção científica, "The freak" (A aberração), projeto que foi revelado ainda em vida do cineasta.
(artigo originalmente publicado em "Portal Entretextos" no dia 5 de outubro de 2010)