1929 - Asas
Primeiro vencedor do prêmio máximo do Oscar, Asas é um filme produzido em 1927, que retrata a saga de dois pilotos de classes sociais distintas, lutando juntos na Primeira Guerra Mundial e tentando conquistar o amor da mesma mulher. Jack Powell (Charles "Buddy" Rogers) é pobre e acaba de comprar seu primeiro carro esporte. Ele é apaixonado por Sylvia Lewis (Jobyna Ralston), que não corresponde a seus sentimentos, sem, entretanto, ser indelicada a ponto de declarar que seu coração é de David Armstrong (Richard Arlen). O rival de Jack é rico, e também sonha em ir para a guerra e servir os Estados Unidos na Europa. Para completar, há Mary Preston (Clara Bow), vizinha de Jack, caída de amores pelo rapaz, que a vê apenas como uma amiga.
Quando a guerra eclode além mar, os dois rapazes são recrutados e, felizes da vida, embarcam rumo à França ocupada pelos alemães. Sylvia e Mary ficam nos EUA tristes pela ida de seus amores, enquanto, na Europa, David e Jack são treinados para realizarem o grande sonho de suas vidas: tornarem-se pilotos dos caças de guerra. A rivalidade entre os dois logo é transformada na mais pura amizade, sentimento que os ajuda a enfrentar os perigos e as dificuldades da guerra.
Uma história de amor e amizade, que usa a frieza da guerra para dar contraste ao enredo, amenizando a perversidade do conflito bélico. Talvez seja esse o motivo que rendeu ao longa o título de melhor do ano, uma vez que ele concorreu com Sétimo Céu e The Racket, duas produções que tratam exclusivamente da guerra e da violência. Asas é o primeiro e único filme mudo ganhador do Oscar (todos os concorrentes daquele ano são mudos), e também o primeiro que traz para as telonas um beijo entre dois homens (calma, é um beijo no rosto, sem nenhuma conotação sexual ou erótica. O beijo homossexual surgiu no cinema muito tempo depois).
O Cantador de Jazz, filme preferido pelo público naquele ano, e Charles Chaplin, que poderia concorrer por The Circus, não puderam participar da premiação, pois se tratavam de produções faladas, uma vez que todos os concorrentes da disputa eram mudos. A cerimônia ocorreu no dia 16 de maio de 1929, e durou apenas 15 minutos (foi a cerimônia mais curta da história). Nela compareceram 250 pessoas, que pagaram 5 doláres cada uma para entrar.
Sonorizado por uma orquestra, o filme beira o intragável em alguns trechos. As variações de tons e instrumentos retratam o sentimento de cada atuação, de cada cena, porém 138 minutos de música instrumental cansa muito, principalmente porque o tempo dramático impresso pelo diretor William A. Wellman é lento, as cenas de guerra, por exemplo, ocupam espaços gigantescos na trama, num ritmo monótono. A insistência da trilha me lembrou um pouco o desenho do Pica-Pau (sei que é uma comparação tosca, mas é o que me veio a cabeça na hora).
Asas foi o filme mais antigo que já vi até hoje, mas parece que os efeitos especiais elaborados para a obra não condizem com a precariedade tecnológica da época, uma vez que as cenas de explosões, ou as aéreas, superam, visualmente, as expectativas de quem tem consciência de que o filme foi feito nos primórdios do cinema, época em que qualquer recurso desejado era muito difícil de ser conquistado. Imagine filmar uma cena com vários aviões se chocando, ou um piloto sendo ferido em plena queda. É inacreditável como a equipe de produção conseguiu tamanha façanha.
O fato de Asas ser mudo ajuda e atrapalha o trabalho. Ajuda no que condiz ao talento interpretativo que os atores devem ter para expressarem suas emoções apenas através das expressões faciais, e atrapalha na obrigatoriedade de paralisação da cena para que a tela de legendas (que é separada da cena) apareça. Por este motivo é impossível, por exemplo, dois personagens se falarem enquanto correm, uma vez que não há como congelar a ação e retomá-la depois, sem alterar o sentido da cena.
Outra característica interessante do filme é a produção de arte, que merece aplausos, por apresentar trabalhos super eficientes, como o fundo das telas de legenda (personalizado de acordo com a cena e com o momento dramático) e as bolhas imaginárias que Jack vê quando está bêbado (além de visualmente bem feitas, dão um tom cômico à cena).
Apesar de conter um roteiro bem criativo, o filme peca na continuidade e na estereotipização dos personagens, que chegam a ser inverossímeis em alguns momentos . Acredito que o apelo, por parte dos atores, de demonstrar para os telespectadores uma atuação consistente diante da incomunicabilidade oral, é responsável por impedir que a expressão fantasiosa dê lugar a uma realidade mais real (é pra ser redundante mesmo).
OBS: Gary Cooper, famoso ator dos Westerns, que atuou em mais de cem filmes em sua carreira, faz uma ponta em Asas, interpretando o tenente White, companheiro de quarto de Jack e David. Para quem gosta do astro e admira sua atuação de estilo forte, decepciona-se com o trabalho mediano dele neste filme. Mas era só o início da carreira dele. Temos que dar um desconto.
ASAS - WINGS
LANÇAMENTO: 1928 (EUA)
DIREÇÃO: WILLIAM A. WELLMAN
GÊNERO: DRAMA DE GUERRA