'O Baile' (publicado originalmente em 12/5/2015)
Aos poucos, descubro diretores. Por estes dias, foi o italiano Ettore Scola. Assistir a ‘O Baile’, de 1983, é como ser transportado a um universo literalmente lúdico. A história se passa no cenário de uma espécie de boate. Só ali. Percorre desde a década de 1930 até a de 1970 e a tanto mostra personagens que sempre frequentaram o lugar. As damas sempre chegam primeiro, dondocas e bem vestidas. Os rapazes depois, asseados, de terno. Um tipo completamente distinto do outro.
As toadas musicais dão o tom de cada época, bem como a direção de arte e o figurino. Sem falar palavra, a fita conta a história da França durante os 40 anos. Vemos a intervenção da Segunda Guerra, os admiradores do fascismo, os destroços do pós-guerra, efervescência política no país em maio de 1968, e o surgimento do rock’n roll. As figuras, claro, também mudam a fisionomia.
Cabelos encanecem, as rugas aparecem, o humor se altera. Porém, nada afeta a beleza do local. É o teatro a grande inspiração de ‘O Baile’. A partir dele, toda a encenação se dá em ritmo dum ensaio esmerado. E. Scola dá as orientações e o elenco corresponde. Especialmente este tipo de filme não se pode fazer sem uma mão boa do diretor e isto ocorre. Iniciado em agosto de 1982, ‘O Baile’ precisou ser interrompido devido ao infarto sofrido pelo cineasta e foi retomado meses após. Argélia, França e Itália se uniram no longa. Foi pro Oscar de filme em língua estrangeira.
Na medida em que se passam os anos, as fotografias são tiradas e o nome da banda, conforme a regra, muda, ‘O Baile’ se molda no consolo ao cotidiano e para esperança de sempre ter melhor o dia seguinte. Scola, hoje perto dos 84 anos, teve no currículo a amizade fidelíssima a Federico Fellini, astro-gênio maior do cinema italiano. Talvez por conta do elo, eu que só vi dele ‘O Baile’ percebi aromas fellinianos espalhados pelo filme. Sonhos misturados com lembranças e vidas.