Todos contra um (publicado originalmente em 14/4/2015)
Em ‘Matar ou Morrer’ (1952) a contagem do tempo é o norte da história. O xerife Will Kane (Gary Cooper) sabe que Frank Miller (Ian MacDonald) vai chegar na cidade no trem do meio-dia. E o relógio da repartição marca precisamente 10h40. A ação da trama, portanto, corre em tempo real, já que a fita dura pouco mais de 80 minutos. Kane havia acabado de se casar com Amy (Grace Kelly no segundo papel no cinema) e tem de adiar a lua-de-mel pra proteger o local da vingança do assassino.
No início dos anos 1950, G. Cooper contava meio século de vida, era um dos astros da sétima arte e havia levado o Oscar de Melhor Ator por ‘Sargento York’ (1942). ‘Matar ou Morrer’, longa que deu a segunda estatueta, serviu para consagrar o ídolo na pele do supermachão do faroeste, capaz de derrubar qualquer fora-da-lei à espreita de seu revólver rápido; e para aumentar a lupa para o rosto angelical de Kelly, que em 1951 havia filmado ‘Horas Intermináveis’. Hitchcock ainda não a conhecia.
Dirigido por Fred Zinnemman e roteirizado por Carl Foreman, ‘Matar ou Morrer’ nos mostra a luta de Kane não contra Miller, mas contra o condado de Hadleyville, pra onde o bandido voltará às 12 horas. Amy quer deter o recém-marido, mas em vão. Durante a fita toda, Kane tenta amealhar os cidadãos conterrâneos a batalharem com ele e acabarem com raça de Miller e seus asseclas (o tal vem com três capangas). Mas os munícipes querem distância de confusão e, um a um, fogem da tarefa.
Os minutos finais, com a perseguição entre ladrões e o ‘marshall’ Kane, o resultado esperado, ou seja, a morte dos maus e a redenção do bom, e o triunfo de poder retornar ‘de onde havia parado’, a lua-de-mel com Amy, dá a ‘Matar ou Morrer’ ares próprios daqueles tempos. Mais: era alívio a uma época de tensões, macartismo e guerras. Cooper, ao lado de John Wayne, lideravam. O protagonista de ‘Matar ou Morrer’, aliás, durou pouco. Um câncer de próstata mal curado e espalhado para o resto do corpo o tirou de cena seis dias após o seu sexagésimo aniversário.
Alguns dias antes, em 17 de abril, a Academia lhe deu o Oscar pelo conjunto da obra. Já muito doente, o ator não compareceu à cerimônia.