Os mesmos artifícios (publicado originalmente em 3/3/2015)

O diretor e roteirista Wes Anderson tem 45 anos e já faz os filmes que faz há muito. Pergunto aos meus botões, como diria Mino Carta, como serão suas obras aos 55, 65 anos. A quem se lembra, é dele, por exemplo, ‘O Fantástico Senhor Raposo’ (2009). Quer mais? É do cineasta também ‘Moorise Kingdom’ (2012). Identificar um trabalho de Anderson é tarefa fácil, mas com perigo de ocasionar as derrapadas costumeiras.

No mais recente, ‘O Grande Hotel Budapeste’ (2014), os sintomas wesianos estão lá. Cameras ágeis, enquadramentos precisos, a fotografia criativa, o roteiro fechado e, o sempre melhor: personagens simultaneamente estranhos e cativantes. Tudo isto se completa com um elenco afiado e repleto de craques. Aqui perambulam Ralph Fiennes (‘O Paciente Inglês’, 1996), F. Murray Abraham (o terrível Salieri de ‘Amadeus’, 1984), além de Adrien Brody (‘O Pianista’, 2002), Williem Dafoe, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Tilda Swinton, Mathieu Amalric (de ‘O Escafandro e a Borboleta’, 2007), Tom Wilkinson, Saoirse Ronan e Owen Wilson (de ‘Marley e Eu’).

Com um time desses não há como dar errado qualquer projeto. Anderson costuma trabalhar com os seus prediletos, o ‘grupinho’, ou ‘panelinha’, como diriam alguns, ainda que existam os que só surjam em pontas, como são os casos de Murray e Wilkinson. Sabedor da teoria, o cineasta, baseado em contos de Stefan Zweig, o escritor judeu que se matou em Petrópolis – RJ, em 1942, por causa da expansão do nazismo, confeccionou ‘O Grande Hotel Budapeste’ com esmero e sentimentalismo. Na trama, conta-se a trajetória do lugar, onde nos anos 30 Gustave (Fiennes) dava a carta como gerente.

Elegante, perfumado, atraente, o moço se engalfinhava com senhoras hóspedes para obter ganhos no futuro. É o que ocorre quando uma delas, a Madame D. (Swinton), morre e deixa a ele como herança o quadro ‘O Menino com a Maçã’. Mas Gustave é acusado de ter assassinado a dama. Precisa fugir. A ajuda inesperada vem de Zero (Tony Revolori), ajudante de ordens recém-admitido no Hotel. Tantas aventuras depois, inclusive com envolvimento da família da vítima (Brody, Dafoe), resolve-se o caso.

São os mesmos artifícios de Anderson. A fita convence pelo deboche e as alfinetadas sutis nos temas propostos. Ele ‘brinca’ de filmar. Dá a alguns personagens ares de comicidade proposital. Zero é exemplo quando diz várias vezes ao chefe Gustave para não flertar com sua amada Agatha (Ronan). As peculiaridades, o estilo único de fazer cinema do diretor, dão à história (a outras dele, idem) tons claros de genialidade. É a primeira vez que ele é indicado a melhor diretor no Oscar e se ganhar será merecido e tardio. A conquista deveria ter sido antes... ‘O Grande Hotel Budapeste’ tem até charme.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 03/03/2015
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