O de sempre (publicado originalmente em 10/2/2015)

‘O Jogo da Imitação’ (2014) é um longa inglês dirigido por um norueguês. Pode soar preconceituoso, mas trata-se dum filme com poço de frieza instalado em seu DNA. A história, a cinebiografia de Alan Turing, o sujeito que praticamente inventou o computador moderno para poder derrotar os nazistas na Segunda Guerra Mundial, é relevante, mas, com raras exceções, a obra se perde em muita teoria e pouca prática, literalmente. Nem o protagonista Benedict Cumberbatch, londrino, convence (apesar de tentar muito). Como a Academia de Artes é previsível em determinadas atitudes, indicou ‘O Jogo da Imitação’ a alguns prêmios, dentre eles o de filme, ator, roteiro adaptado. Joga-se fora a grandeza.

A trama envolve o período em que o governo britânico monta uma equipe com o fim de quebrar o tal ‘Enigma’, famoso código que os alemães usavam a transmitir mensagens aos submarinos. Turing faz parte da trupe. Aos 27 anos, é lógico nas suas ações e focado no emprego. Porém tem problemas com os demais colegas, de relacionamento. Mesmo intransigente, o ‘cientista’ lidera os outros. O projeto é construir uma máquina que analise as possibilidades de codificação do ‘Enigma’ em 18 horas, a que o país consiga as ordens enviadas pelos seguidores de Hitler antes que elas sejam executadas. A.Turing é auxiliado por Joan Clarke (Keira Knightley), tão inteligente quanto ele e sua grande incentivadora.

Nunca considerei Keira uma boa atriz. Inexpressiva e desconjuntada, os filmes dos quais fez parte se tornaram célebres não por conta dela (‘Orgulho e Preconceito’ – 2005, ‘Desejo e Reparação’ – 2007, ‘Anna Karenina’ – 2012 etc). Já Benedict está em seu primeiro trabalho de importância. Antes esteve em papéis menores, como em ‘12 Anos de Escravidão’ (2013) e ‘Cavalo de Guerra’ (2011). O ator não se parece com o biografado e há sequências em que soa estar despreparado para a tarefa (Turing, na vida real, era homossexual e foi penalizado por isto – cometeu suicídio em 1954, aos 41 anos, quando ingeriu uma maçã envenenada. Em dezembro de 2013, a rainha Elizabeth II lhe deu o perdão oficial).

Películas inglesas, que não as de Charles Chaplin, me causam ansiedade. Espero a reação, a emoção, e elas não chegam. A culpa é dividida. Metade é dos personagens frágeis, fracos, que não têm âmago necessário para desenvolver a trama. Metade é o grupo de atores reunidos. Morten Tyldum, o diretor norueguês, rodou somente ‘HeadHunters’ (2011) antes de ‘O Jogo da Imitação’. Pouca gente sabe do que se trata (eu não o assisti). Teve locações na própria Noruega e a Alemanha. Pode até ser que seja ótima realização. ‘O Jogo da Imitação’, no entanto, desliza feito enguia na mãos As quase duas horas de duração custam a passar. É o de sempre. Apatia, insensibilidade e indiferença expostos na telona.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 11/02/2015
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