'A Teoria de Tudo' (publicado originalmente em 3/2/2015)
Aos 21 anos, o astrofísico Stephen Hawking descobriu ser portador duma grave doença degenerativa. O médico lhe deu cerca de dois anos de vida. Na época, já namorava a estudante Jane. Ela o fez ver o outro lado da enfermidade. Casaram, tiveram três filhos, se separaram a pedido dele, são amigos até hoje. Jane chegou a flertar com Jonathan, que conheceu num coral de igreja. Casou-se com ele após o divórcio.
O resumão está em ‘A Teoria de Tudo’ (2014), cinebiografia dirigida por James Marsh (do ótimo ‘O Equilibrista’, 2008). O filme é extremamente delicado, de bom comando e atores inspirados e ‘trabalhadores’. Eddie Redmayne (Hawking), principalmente, está soberbo. Dedicou-se com afinco à tarefa de dar vida ao cientista e dá o show de interpretação. Aliás, o próprio Hawking disse que em determinados momentos pensou estar assistindo a ele mesmo na telona. Chegou a emprestar sua voz nas cenas derradeiras. A fita emociona pelo impacto de veracidade imposto a todos os espectadores.
A coluna não se importará tanto em narrar a vida do cientista. O relevante é provocar quem assiste a farejar onde está o ponto nevrálgico da digna interpretação de Redmayne. Tal qual o ultrapremiado Daniel Day-Lewis nos melhores dias, o ator novato se esforça e tem como a recompensa o resultado de encher os olhos de lágrimas. E até por seu trabalho encantador, Felicity Jones (Jane), com maior bagagem profissional, digamos assim, o ampara nos instantes do filme em que ele mais precisa.
Note a passagem na qual Hawking pede o desquite à esposa. Felicity parece ‘carregar’ o colega no colo com suas reações e olhares de pena e simultaneamente tristeza absoluta por saber que perderá, e a certeza absoluta, o amor de sua vida. ‘A Teoria de Tudo’ deve muito igualmente ao diretor Marsh. Não teve a infeliz ideia que alguns colegas têm: por a mão carregada na direção, destroçando o longa-metragem de maneira trágica. Ele, não. A direção é serena e chega a ser palpável, de tão mansa e de categoria.
Não à toa, Redmayne e Jones foram indicados ao Oscar de melhor ator, atriz. Causou-me estranheza a limada de Marsh entre os cinco diretores finalistas do prêmio. Dentre os classificados, somente não vi ‘Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo’ (2014). Os demais foram bem apontados. Talvez Morten Tyldum, de ‘O Jogo da Imitação’ (2014), pudesse ficar de fora.
Todavia, Marsh, se conseguir manter a qualidade dos trabalhos, tem futuro promissor. Com ‘A Teoria de Tudo’, Anthony McCarten deu prioridade a um roteiro que quase escapou de ser ‘sentimentalóide’. Baseado na autobiografia de Jane Hawking– ‘Minha Vida com Stephen’ –, McCarten detalhou o encontro do casal e se concentrou nisto e não em explicar física quântica, por exemplo. Óbvia decisão. O público jamais compreenderia tal teoria. É claro que salpicadas do assunto estão no filme, mas de maneira imperceptível, em alguns instantes até com piada delicada. Enfim, ‘A Teoria de Tudo’ faz-nos vibrar pelo altar do bom cinema.