SOLILÓQUIO DA VERDADE
“Deus Não Está Morto” foi a forma que o cineasta Harold Cronk encontrou para responder a uma das maiores mentes da filosofia, Frederick Nietzsche. Obra prima da sétima arte ou mais um “filmeco” de clichês religiosos?
A partir do próprio título, até o menos atento espectador logo espera uma clara defesa da ideia criacionista. Mas já aos quinze minutos de filme tudo fica muito interessante. O filme passa a prometer um grande espetáculo de ideias e argumentos sobre a origem de tudo.
Quando um excêntrico professor de filosofia desafia um de seus alunos a provar a existência da santíssima trindade, o conflito está lançado. Na defesa do criacionismo o calouro de faculdade vivido pelo ator Shane Harper; por outro lado, seu ateu professor de filosofia vivido por Kevin Borbo. Um debate existencial que não te deixa piscar os olhos ao menos nos primeiros momentos. No entanto, o filme logo revela seu real objetivo já denunciado desde o título. Passam a ser muito mais validados os argumentos criacionista enquanto que o sagaz professor repentinamente parece perder suas faculdades mentais. Enquanto argumentos em defesa da criação ganham peso, o contra argumento simplesmente deixa de acontecer. Assim, o excêntrico professor de filosofia, outrora sagaz, seguro e eloquente, deslealmente passa a ser mostrado como um homem intumescido de traumas psicológicos. O que logicamente é usado como argumento do roteiro para justificar o ateísmo do professor.
Apesar de “Deus Não Está Morto” cumprir mesmo uma defesa ferrenha do criacionismo cristão como é anunciado desde seu título; o filme o faz de forma bem argumentada. Não com o velho discurso moral das epopeias bíblicas, mas com uma história simples, contemporânea e argumentos bem fundamentados em pesquisas e até mesmo em conhecimento científico. Um paradoxo sim argumentos científicos utilizados para defesa de uma visão criacionista, já que fé não exige provas. Mas é exatamente esta riqueza que o torna um filme interessante.
A filmografia oscila entre cinema e televisão. Enquanto em alguns momentos o espectador é brindado com imagens belíssimas e ângulos de câmera nada convencionais, algumas cenas mais se assemelham a linguagem de telenovela, com excesso de câmeras sobre os ombros dos atores em alguns diálogos.
Dois pontos fortes do filme são sua contemporaneidade em filmes de seguimento religioso e um texto muito bem argumentado para o que se propôs. Já, dois pontos negativos, podemos observar a falta de aprofundamento na visão de culturas diferentes, como a forma que se retrata a família muçulmana, o chinês convertido em cristão e o professor ateu, colocado muitas vezes como um homem arrogante. Seria o cristianismo a panaceia para o caos humano? É o que parece afirmar este filme quando falta com aprofundamento necessário.
Contudo nem tanto céu nem tanto inferno. “Deu Não Está Morto” com um texto bem argumentado, atuações de um elenco pouco conhecido, mas muito competente, está longe de ser um marco cinematográfico, mas inova saindo das clássicas parábolas bíblicas e merece destaque em sua categoria.
“Deus Não Está Morto” teria tudo para ser um filme fantástico num terreno em que poucos diretores se arriscam. Argumentos equivalentes de ambos os lados e a não defesa de uma só verdade teriam feito deste filme uma obra muito mais interessante e não confinada a categoria religiosa de cinema.
Não se deve blindar a psique ao apreciar uma obra de arte, mas com algum cuidado vale muito a pena ver este filme.