Pior - Melhor (publicado originalmente em 16/12/2014)

Se estivesse vivo, dia 10 de outubro seria o nonagésimo aniversário do diretor e produtor Ed Wood. E semana passada, dia 10, completaram-se 36 anos de sua morte. Com título de ‘o pior diretor de todos os tempos’, Wood nada tinha de ingênuo. Sabia da qualidade de seus trabalhos e os filmava de maneira torta de propósito. A fita ‘Plano 9 do Espaço Sideral’ (1956) foi considerada pelos críticos dos EUA como ‘a pior história de todos os tempos’. Nos dias de hoje, Wood seria cultuado e bajulado.

As montagens de suas realizações eram precárias. Reusava material de produções largadas e os efeitos especiais eram toscos. A descontinuidade era marca registrada. O orçamento estrangulado fez com que o cineasta incorporasse a feição de fã da imagética e não de planos lineares. Na verdade, era apaixonado por rodar tramas e esta característica cativou os seguidores. Bela Lugosi, ator que se tornou lenda por ter interpretado Drácula nos anos 1930, fez os últimos filmes sob direção de Wood.

Não era somente isso. Wood amava escalar no cast atores caricatos. Tor Johson foi exemplo máximo. Ex-lutador de luta livre, o sueco virou marca registrada dos roteiros. Ed Wood se fixou em seu ramo. Pouca grana, cenários à Chaves, diálogos à toa e figurinos delinquentes faziam parte deste metiê do artista. Ele ensinou a muitos dos aprendizes como fazer a engenharia da coisa. Pra ele, seus dramas fictícios valiam tanto quanto o suporte por detrás de tudo. Amava a arte de filmar, o cinema.

Em 1994, Tim Burton (só poderia ser ele mesmo para ter a ideia) filmou a cinebiografia de Ed Wood. Com Johnny Depp no papel-título e Martin Landau como Lugosi (ganhou inclusive o Oscar de coadjuvante – o filme concorreu também no quesito maquiagem), o longa-metragem custou mais do que todas as películas de Wood juntas. Burton optou por focar na década de 50, quando Wood estava envolvido com atores em fim de carreira (como B. Lugosi) e produziu scripts de péssima qualidade.

Há, é claro, uma lição embutida na trajetória do diretor-produtor-roteirista. Como escrevi há algumas semanas, de forma repetida e chata até, 2014, para a sétima arte, pode ser jogado no lixo. É fatalidade de se estar no imbróglio dos nossos tempos, recheados de ‘Jogos Vorazes’, ‘Transformers’ e afins, para não mencionar as comédias frouxas brasileiras ou estadunidenses. Os grandes nomes do ecrã mundial estão, pouco a pouco, indo embora. É a natureza que age. Pobres de nós, ainda mortais.

Quem é que sobra, hoje em dia, pra escrever as histórias? Falar de Woody Allen é chover no molhado e não ajuda nada. Ou lembrar de Manoel de Oliveira, 106 anos, incrivelmente ativo. É preciso reformular o cinema.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 17/12/2014
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