Mais um (publicado originalmente em 25/11/2014)
De forma particular, 2014 já se transformou num ano péssimo ao cinema. Em todos sentidos. Nas mortes, por exemplo. Aqui no Brasil foi-se embora Eduardo Coutinho e Hugo Carvana, dois dos maiores expoentes da arte de filmar. Fora, no estrangeiro, o que dizer dos desaparecimentos brutais de Robin Williams e Philip Seymour Hoffman? Isto sem falar nos de Lauren Bacall, Shirley Temple e Alain Resnais. E quinta-feira passada, Mike Nichols, 83, um dos melhores diretores deste nosso ecrã.
Berlinense de nascimento, de 15 de novembro de 1931, o cineasta fugiu da cidade aos 8 anos, com os pais, durante a Segunda Guerra Mundial. A sua vida nas luzes não se resumiu somente a ficar atrás das câmeras, sets. Ele é uma das cinco pessoas que conquistaram os quatro maiores prêmios do showbiz americano: Oscar (cinema), Tony (teatro), Emmy (televisão) e Grammy (música). Além dele apenas as belas Audrey Hepburn, Barbra Streisand e Rita Moreno, mais o ator Mel Broks, obtiveram tamanha honraria. Portanto, como se vê, não é somente a sétima arte que perde. E somos nós, os fãs.
Apego-me aos filmes. Mike Nichols esteve no comando de verdadeiros baluartes do século 20 e comecinho do 21. Sob sua direção Elizabeth Taylor e Richard Burton tiveram uma de suas melhores interpretações. Talvez as melhores. Foi em ‘Quem Tem Medo de Virginia Woolf?’ (66). Não bastasse isto, no ano seguinte o diretor pegou o então jovem ator Dustin Hoffman (na época com 29 anos) e o fez protagonizar o cult ‘A Primeira Noite de um Homem’. A fita rendeu a Nichols o Oscar de diretor.
A sua batuta também regeu Jack Nicholson em quatro oportunidades. Em 1971, com ‘Ânsia de Amar’; quatro anos mais tarde em ‘O Golpe do Baú’; e ainda no romance tenso de ‘A Difícil Arte de Amar’ (1986, com Meryl Streep) e no fracasso de ‘Lobo’ (1994, com Michelle Pfeiffer). Em 93, seu lado produtor aflorou com ‘Vestígios do Dia’, com a obra sendo indicada ao prêmio máximo da festa. ‘Uma Secretária do Futuro’ e ‘A Gaiola das Loucas’ (96) compõem o currículo de M. Nichols.
Há dez anos, porém, parecia ter retomado a velha forma. ‘Closer: Perto Demais’ surpreendeu por seu roteiro e direção. O quarteto Julia Roberts, Natalie Portman, Jude Law e Clive Owen estava afiado e o maestro Nichols, com a corda toda. Pode-se afirmar: ao lado de ‘Quem Tem Medo...’ e ‘A Primeira Noite...’, ‘Closer’ pertence à lista dos trabalhos mais significativos do diretor na telona. Ele conseguiu trabalhar palavras de maneira singular, com mão boa para as representações fortes dos atores. ‘Jogos do Poder’ (2007), com a mesma Julia Roberts, e Tom Hanks, foi o derradeiro suspiro. Com a morte dele, vai embora mais do ótimo cinema.