A empolgação contaminada (publicado originalmente em 4/11/2014)
‘Tim Maia’, nos cinemas desde quinta-feira, segue trilha das cinebiografias, musicais ou não, das produções tupiniquins. Tivemos as de Cazuza, de Noel Rosa, Renato Russo, Chico Xavier, Zezé di Camargo e Luciano, Paulo Coelho, enfim, parece que se descobriu este filão. No caso de Tim não foi diferente. A fita conta a história do músico desde a infância sofrida na Tijuca, Rio de Janeiro, onde as marmitas eram vendidas por ele pra ajudar em casa, até o estrelado nos anos 80, e tudo permeado de canções que nos fazem querer sair da poltrona do cinema e dançar por aí. Estão aí também o contato com as drogas e bebida, vícios que o levaram a cancelar shows e a moldar sua fama de encrenqueiro.
No papel do protagonista, três atores se revezaram: Babuzinho Santana (fase infantil, quando vê o padre bolinando a moça e o corrompe), Robson Nunes (fase adolescente e começo da adulta, nos shows dos Sputniks, com um Roberto Carlos jovenzinho e soberbo) e Babu Santana (fase derradeira, afundado nos tóxicos e beligerante). O trio é ótimo, sobretudo os dois últimos e suas atuações estão de acordo com as épocas do cantor. Elas afinam e tiram um pouco da mediocridade do roteiro com a narração em off que permeia praticamente todo o longa-metragem. É Cauã Reymond o responsável por isto. Um dos produtores, o ator-galã quis garantir sua participação e nos jogou na jaula dos leões.
Estou cansado de os filmes, especialmente os brasileiros, acharem o espectador um idiota por completo ao descreverem as cenas por meio destas narrações, mastigá-las, quase vomitá-las de volta, a fim de que a pessoa em geral não tenha o ‘trabalho’ de pensar no que ocorre na história. E em ‘Tim Maia’ o ingrediente está exagerado. A direção, todavia, se sai bem, tem pouco a fazer no que se refere às atuações. O filme é baseado no livro ‘Vale Tudo’, de Nelson Motta, um dos amigos mais íntimos de Tim. E o script não se preocupou em mostrar o óbvio, ou seja, quem for assistir verá ali o ostracismo e a dependência nos tóxicos e o culto à Cultura Racional, religião dos magnetizados, na década de 70.
Ao entrar na sessão, minha empolgação foi lá em cima porque sou fã de Tim Maia. À medida que a fita avançava, e as narrações idem, fiquei contaminado e travado na emoção. Realmente o filme vale o ingresso, porém somente pelas melodias e pra ver Roberto Carlos afeminado e com um sorriso fingido sempre que surge nos sets. Soou como vingança a ele, que esnobou Tim no início da carreira.
Tim Maia – Diretor: Mauro Lima. Roteiristas: Mauro Lima e Antônia Pellegrino. Elenco: Babu Santana, Robson Nunes, Cauã Reymond, Alline Moraes. Duração: 2h20. Classificação: 16 anos. Avaliação: regular.