Robin Williams (publicado originalmente em 19/8/2014)
O dia 23 de março de 1998 para Robin Williams, ator que morreu aos 63 anos há 8 dias, foi, no quesito premiação, o maior de sua carreira. Juliette Binoche, ganhadora do Oscar de coadjuvante um ano antes por ‘O Paciente Inglês’ (1996), entregou a ele a estatueta também de coadjuvante, mas por ‘Gênio Indomável’. Era a coroação de quase três décadas de carreira àquela altura. A Rede Globo transmitiu ao vivo a festa, com comentários de Rubens Ewald Filho e Arnaldo Jabor.
Naquele dia, eu não sei o motivo, o cineasta, diretor de ‘Toda Nudez Será Castigada’ (1973), estava com seus nervos à flor da pele. O amargor e a antipatia, que viriam a ser marcas registradas, estavam talvez no começo. E a cada estrela de Hollywood que subia ao palco, ele tecia comentários ácidos. Com Williams não foi diferente. ‘Não mereceu. Ele é um falso bom ator’, disparou. Falso bom ator? A interpretação dele em ‘Gênio Indomável’ (97) não surpreendeu a todos porque se sabia da qualidade de Robin. Na lista dos concorrentes estavam, por exemplo, Greg Kinnear por ‘Melhor é Impossível’, que também podia ter recebido o troféu. Ou Burt Reynolds por ‘Boogie Nights’. Porém, Williams fez jus. O papel de Sean, o professor amigo de Will, o tal gênio, galgou elogios e arrancou suspiros do público. Menos de Jabor.
O brasileiro corre o risco de ficar com imagem de Robin Williams mal educado. Em 2009, em uma entrevista no programa de David Letterman, disse que a cidade do Rio de Janeiro conquistara a chance de sediar os Jogos Olímpicos – 2016 por enviar ao Comitê julgador ‘50 strippers e meio quilo de pó’. Uma das localidades derrotadas foi Chicago, nos Estados Unidos. Mas devemos nos acalmar. Já em 2009 o ator convivia com a depressão e o alcoolismo. Estava há muito de mal com a vida e só queria demonstrar este ressentimento de alguma forma. Escolheu a atração da TV, ficou com a pecha de deselegante, para dizer o mínimo, e perdeu fãs por aqui. Pena, pois sua trajetória é rica, talentosa.
Robin Williams realizou trabalhos marcantes no cinema. Antes, na televisão, participou de duas séries de sucesso, ‘Dias Felizes’ e ‘Mork & Mindy’, ambas nos anos 70. Estreou tarde no cinema, aos 29 anos, como o marinheiro ‘Popeye’ (1980), dirigido pela lenda Robert Altman. A partir daí, os brilhos foram um atrás d’outro, com fitas como ‘Bom Dia Vietnã’ (1987), ‘As Aventuras do Barão de Münchausen’ (1988), o estouro em ‘Sociedade dos Poetas Mortos’ (89), ‘Tempo de Despertar’ (1990), ‘O Pescador de Ilusões’ (1991), ‘Hook: A Volta do Capitão Gancho’ (1991) e, finalmente, o melhor de todos, ‘Uma Babá Quase Perfeita’ (1993). Parênteses agora. R.Williams como o pai que se transforma na senhora Doubtfire para ficar mais perto dos filhos é, ao mesmo tempo, hilário e bem comovente. A parceria com Sally Field e Pierce Brosnan, além da boa química com Robert Prosky, é inesquecível.
Após ‘Gênio Indomável’ ele trabalhou no péssimo ‘Amor Além da Vida’ (1998) e também nos emocionantes ‘Patch Adams: O Amor é Contagioso’ (98) e ‘Homem Bicentenário’ (01). Com Woody Allen rodou ‘Desconstruindo Harry’ (1997) e virou um símbolo gay com ‘A Gaiola das Loucas’ (1996). Desde então mergulhou em fracassos retumbantes como ‘Retratos de uma Obsessão’ e ‘Insônia’ (02), ambos com personagens macabros, obscuros, que exibiram-no com a feição fechada, de delinquente.
Pouca gente sabe, mas o ator foi ainda um excelente dublador. Em ‘Uma Babá Quase Perfeita’ o dote é explorado com maestria. Mas Williams contribuiu nas animações ‘Alladin’ (1992) e ‘Happy Feet: O Pinguim 1 e 2’ (2006, 2011). Os blockbusters ‘Uma Noite no Museu 1 e 2’ (2006, 2009 – o 3º estreia em 2015 com ele no elenco) reativaram a fama do artista. Todavia, com ele bastante abalado física e psicologicamente. Em 2004, o baque: a morte de Christopher Reeve, o eterno Superman, aos 52 anos. Reeve era um dos melhores amigos de Williams. Estudaram artes cênicas juntos. A sucessão de fases depressivas levou-o ao suicídio. A sétima arte fica pobre, diz o lugar-comum. Agora Arnaldo Jabor deveria vir a público e se explicar: o que quis dizer com aquela expressão de ‘o falso bom ator’?