Onde está Jack Nicholson? (publicado originalmente em 12/8/2014)

Em 2009, Jack Nicholson recebeu convite do diretor James L. Brooks pra filmar ‘Como Você Sabe’ (2010), fraca comédia do mesmo realizador de ‘Laços de Ternura’ (83) e ‘Melhor é Impossível’ (1997), dois longas também com a participação do ator e infinitamente de qualidade superior. Na fita de quatro anos atrás, Nicholson deu vida a Charles, empresário e pai de George (Paul Rudd). Era só o papel pequeno, sem pompas, pronto a ser logo esquecido. Foi a última vez em que o eterno ‘Coringa’ pisou num set de filmagem. De lá pra cá, nestes quase cinco anos, não temos tido notícias do artista.

Aliás, uma. Em meados do ano passado, um site de fofocas noticiou que ele estava com o Mal de Alzheimer e que resolvera se retirar do chamado showbiz. Segundo o repórter, Jack não conseguia mais decorar textos e ao perceber isto decidiu botar o ponto final na carreira de mais de meio século. A assessoria do ator, entretanto, desmentiu quaisquer informações a respeito da saúde dele e ainda detalhou que Nicholson estava pronto para trabalhar de novo. Semanas depois, o portal IMDB.com postou que o ator estava escalado ao novo longa-metragem de Warren Beatty, programa para estrear em 2015. Um tempo depois, o nome Jack Nicholson não estava mais na lista dos atores participantes.

Desde o primeiro trabalho no cinema, ‘The Cry Baby Killer’ (1958), nunca o ator ficou tanto tempo assim sem filmar– já se vão praticamente cinco anos. Até hoje, o maior período de ‘buraco’ foi entre 1997, com sucesso retumbante de ‘Melhor é Impossível’, que o fez ganhar o seu terceiro Oscar, e 2001, quando foi dirigido por Sean Penn n‘A Promessa’. Desde 2002, quando rodou ‘As Confissões de Schimdt’, não atua como protagonista solo (em ‘Tratamento de Choque’ foi Adam Sandler, em ‘Os Infiltrados’, a dupla Leonardo DiCaprio e Matt Damon, e ‘Alguém Tem que Ceder’ dividiu com Diane Keaton e em ‘Antes de Partir’ com Morgan Freeman). Em janeiro de 2008, concedeu entrevista onde dizia ter avisado sobre interpretação do Coringa para o ator Headh Ledger, morto alguns dias antes.

Tudo bem. Vamos pensar o lado bom da vida dele. Jack Nicholson está multimilionário, tem casas espalhadas ao redor do mundo, na praia, no campo. Pode ter as mulheres que quiser e, aos 77 anos, completados em abril, não precisaria mais realmente por os pés num set de cinema e viver seus últimos anos com boas companhias e sem preocupações. Está certo pensar assim. Mas ser tal qual o elefante que se retira e se esconde para morrer são outros quinhentos. Os fãs dele não merecem isto.

Falo por mim. Não desejo assistir a derrocada possível do ator como foi com os astros como Marlon Brando e Orson Welles, caricaturas de si mesmos nos desfechos das respectivas biografias. O sabido é que Nicholson aparenta estar com mais idade do que conta e um tanto acima do peso para o seu 1,77 metro. Poderia repetir Charles Chaplin, cineasta sazonal, que se retirou do palco uma década antes de morrer. Recentemente, no programa ‘Provocações’, da TV Cultura, o psicanalista Içami Tiba disse ser admirador de Nicholson. Referindo-se ao apresentador Antônio Abujamra, Tiba disse: ‘Ele é capaz de mostrar o sentimento com o simples mexer duma sobrancelha. Assim como você Abu. Eu acho você e ele parecidos nisto.’ Pois é. Mas onde diabos está Jack Nicholson? Qual é seu paradeiro?

Um fecho de nó possível e viável poderia vir da Academia de Artes Cinematográficas. Refiro-me, claro, a entrega do Oscar pelo conjunto da obra, assim como aconteceu com Peter O’Toole pouco tempo atrás. Seria estupenda a recepção a Nicholson e a consagração de um Ator com ‘a’ maiúsculo, potente em todas as películas que trabalhou até 2010. Não é possível que o protagonista de histórias como ‘A Última Missão’ (1973), ‘Chinatown’ (1974), ‘O Iluminado’ (1980), ‘Batman’ (1989), ‘Cada um Viver como Quer’ (1970), e que teve erros crassos como ‘Lobo’ (1994), ‘A Chave do Enigma’ (1990) e ‘Acerto Final’ (1995) saia de cena assim, sem se despedir. Jack Nicholson não é personagem comum.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 12/08/2014
Reeditado em 13/08/2014
Código do texto: T4919251
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