O CINEMA
O cinema ainda é o grande elo de associação entre a visão que empreende o Diretor de cada filme, e a manifestação de sentimentos que nos absorve.
O mesmo fato não é visto da mesma forma. Ângulos e verdades diferentes projetam a individualidade de cada pessoa na análise e interpretação dos fatos.
No livro “Filmes que Ensinan”, de Myrna Silveira Brandão, socióloga, participante da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, colhemos parte do texto de Luiz Augusto M. da Costa Leite, que cita:
“O Cinema é a grande metáfora de sucessivas gerações. É ali, no escurinho, que confrontamos nossos valores, reconhecemos contradições, brigamos e nos reconciliamos com a humanidade, fazemos, enfim, a ponte entre imaginário e realidade, reconstruindo ambos a partir de sua percepção.”
Myrna manifesta: “... desde muito cedo, todas as vezes que assistia um filme, além de penetrar no mundo mágico do cinema, ficava refletindo muito tempo, após o seu término, em tudo aquilo que havia assimilado daquela experiência. E, na maior parte das vezes, concluía o quanto já tinha aprendido em termos de história, artes, filosofia, antropologia, religião e tantos outros conhecimentos através dos filmes que eram mostrados na tela”.
Voltemos ao tempo para relembrar um desses cinemas:
Cine Colúmbia. Um mundo encantado de uma infância sem estresse. Era na cidade de Macaíba, em nosso estado (RN). Três figuras eram os autores desta primazia: Ranilson Costa, Rui Marciano e Lourival dos Santos.
O filme do dia estava em cartaz. Eram fotos de cenas que antecipadamente preparavam nosso coração para o grande momento.
A tela branca que se escondia por trás da cortina azul estava prestes a concentrar olhares e como que refletindo vida, logo estariam rebuscando emoções.
A música orquestrada sonorizada pelos alto-falantes davam boas vindas aos espectadores.
Os assentos iam sendo ocupados pelos aficionados na expectativa de compartilhar com seus artistas prediletos cada ação, cada olhar e cada sorriso.
O tabuleiro com chiclete americano, confeitos, pastilhas e caixinhas de passas chilenas, se delocava ao anúncio: olha o confeiteiro!
Chegou a hora!
A luminosidade da sala vai diminuindo, ao tempo que os retardatários buscam suas acomodações.
Ouve-se: tom...tom...tom ... . som que anunciava que o filme ia começar.
A cortina vai se abrindo e a mágica de transportar as cenas da película para a tela branca vai gradativamente dosando a emoção.
Como será o fim? Com certeza o “meu artista” será o herói do filme!
Alguns rostos apoiados em ombros amorosos e mãos dadas equilibravam cada cena onde os primeiros suspiros pareciam vir da alma.
Na cabine de projeção toda a atenção era necessária para que a película, feita de nitrato de celulose, não “quebrasse” e, para a passagem, com a sintonia, de um projetor para outro, sem que o espectador percebesse.
Quando isso acontecia, era gritos e assobios que apressavam a correção pela junção das películas correspondentes às sequências de imagens para colocar as cenas em ordem correta de acontecimento.
O final se aproxima. Concentração total. As primeiras luminárias davam sinais para que os moços e mocinhas se restabelecessem da magia e voltando a recompor a postura, esperar o fatídico: THE END.
A partir daí cada um levava consigo um êxtase que permaneceria até a próxima exibição.
Hoje com o avanço tecnológico tais práticas foram substituídas por outras mais modernas.
Nos dias atuais temos salas modernas e confortáveis, mas um público que prioriza a pipoca, a água mineral, o refrigerante, a conversa e o iphone, em detrimento à concentração estimulada pelo escurinho do cinema.
Sim, os filmes também que circulam pelas nossas salas de cinemas, em muito já não transmitem aquelas emoções.
Mas, o cinema é o cinema.