CRÍTICA DO FILME X-MEN: DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO
CRÍTICA DO FILME X-MEN: DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO
"X-MEN: Dias de um Futuro Esquecido" é o segundo melhor filme dos X-MEN. Para mim, "X-MEN: Primeira Classe" ainda é o melhor. Vou tentar explicar de uma maneira que não estrague o filme para os que não viram. Em primeiro lugar, há uma questão fundamental acerca da arte autêntica que se relaciona com a crítica que faço desse filme. Tem um trecho de um texto de Marcuse sobre a arte que diz: "Se a arte fosse prometer que, no fim o bem triunfaria sobre o mal, tal promessa seria refutada pela verdade histórica. Na realidade, é o mal que triunfa, e apenas existem ilhas de bem onde nos podemos refugiar durante algum tempo. As verdadeiras obras de arte têm disso consciência; rejeitam as promessas fáceis; recusam o aliviante final feliz. Devem rejeitá-lo, pois o reino da liberdade é inabarcável pela mimese, esta não consegue dar-lhe forma. O final feliz é 'o contrário' de arte". Quem assistiu o filme irá entender. O filme "X-MEN: Primeira Classe" mostrou um Magneto menos caricato, menos imoral, alguém que tinha uma causa justa e que lutava com dignidade contra os poderosos e tinha consideração pelos seus "irmãos" mutantes, mesmo os seus adversários, que respeitava a liberdade de escolha e que lutava para impedir que outros sofressem o que ele sofreu nas mãos dos nazistas. A perseguição aos nazistas na América Latina foi algo que aconteceu na História, muitos judeus caçaram os nazistas aqui depois da Segunda Guerra. O vilão tinha como iniciais SS, o nome da tropa de assalto nazista, e era um médico de campo de concentração que fazia experiências com pessoas geneticamente diferentes do padrão, como Josef Mengele. O contexto histórico e a história dos mutantes tiveram uma relação muito mais orgânica, se é que posso dizer assim, não pareceu artificial. Enfim, teve um roteiro muito mais complexo e bem feito. O Magneto da maioria dos filmes não é muito moral, ele é devotado à sua causa, mas não se importa com as pessoas, além disso, não organiza de forma eficiente os seus. Ele é um grande líder que lidera um bando. Charles Xavier, por outro lado, mesmo tendo uma estratégia reformista, preza muito mais a organização e os seus X-MEN são muito mais treinados e disciplinados e, por isso, sempre derrotam o Magneto. Nesse sentido, não dá pra dizer que o "Magneto está certo", porque não basta estar certo na estratégia (revolucionária), é preciso considerar a moral e os métodos também e para o Magneto da maioria das histórias, o fim justifica os meios. Ele está disposto a sacrificar qualquer um, inclusive os seus soldados e companheiros, em nome de algo maior; ele tem uma relação utilitária com os outros. Além disso, acerta ao constatar de que é preciso lutar de forma decidida e sem trégua contra aqueles que querem exterminar a sua raça, mas recai,às vezes, num discurso racista também, em algo como o oprimido que introjeta o opressor e tenta estabelecer uma nova ordem em que só muda quem oprime e não que acabe com a opressão (tanto nos quadrinhos quanto nos desenhos e filmes também é possível encontrar um Magneto igualitarista e democrático, que quer um mundo que seja uma grande irmandade de mutantes, mas isso não é sempre, muitas vezes assume um caráter de liderança burocrática, mesmo que radical). E além do equívoco das ações terroristas que ele quase sempre pratica (que é diferente de uma insurreição; nesse sentido, o X-MEN 3 foi o que a ação comandada por ele mais se assemelhou a uma insurreição, com o seu exército de mutantes, lutando contra a Cura, ou seja, o extermínio científico de sua raça, bem ao estilo nazista, mas implementado pela tecnocracia de uma democracia de massa; esse Magneto estava certo!), ele promove ações midiáticas e foquistas num estilo meio guerrilheirista ou black bloc, numa concepção de que as ações exemplares trarão mais mutantes para a luta e tudo o que ele consegue é ser preso e fortalecer a reação fascista, seja com Stryker no X-MEN 2, seja com as Sentinelas neste novo filme. O Wolverine, mesmo não estando correto do ponto de vista estratégico como está Magneto, é mais correto do ponto de vista moral, lutando sempre por aqueles que estão ao seu lado, se sacrificando pelos seus amigos. Tanto Wolverine quanto Magneto são heróis trágicos e, por isso, são muito mais interessantes do que os demais. O roteiro do novo filme também é bastante complexo e está muito longe de um filme pipoca. Bryan Singer teve um mérito importante; ele conseguiu resolver no roteiro as contradições geradas pelos diversos filmes feitos por diretores diferentes. Quem vir o filme perceberá como ele resolveu alguns problemas relativos aos filmes "Wolverine Origens" e "X-MEN: Primeira Classe", que estavam em contradição um com o outro em alguns pontos. As cenas do futuro são muito boas e o Charles Xavier desse novo filme é o melhor de todos, porque explora o drama do Xavier e da sua relação difícil com o seu poder (pense o que é ser o maior telepata do mundo, o que significa ser um telepata e as implicações desse poder para um indivíduo, ainda mais se ele estiver em conflito e sem foco), assim como "X-MEN: Primeira Classe" explorou em profundidade o drama pessoal de Magneto. Uma questão importante do filme é o tempo que levou para o Projeto Sentinela ser aplicado de forma plena e mudar radicalmente a vida na Terra. Isso nos faz pensar sobre o que os tecnocratas de hoje estão planejando para o nosso futuro, que planos sinistros não estão sendo trabalhados nas sombras e que tornarão mais repressiva a existência humana na Terra. James McAvoy, é importante que se diga, é um Xavier muito melhor do que Patrick Stewart, embora o último se pareça mais com o personagem. A questão é simples: James McAvoy é um ator espetacular! Já o Magneto, tanto Ian McKellen quanto Michael Fassbender são excelentes. Um é mais marrento e mais sagaz e outro é mais torturado e cede constantemente à ira, mas os dois são um Magneto extraordinário! Hugh Jackman, não há o que dizer, ele é o Wolverine! Assim como Harrison Ford é o Indiana Jones. O filme do Apocalipse deve ser menos polêmico, porque ele é a personificação do mal, a encarnação do mal, para ele, "só os mais fortes sobrevivem", lema de uma espécie de darwinismo social. Ele é um personagem de inspiração nazista, aparentemente, por ser megalomânico, ter um desejo de poder ilimitado, pensa em dominar o mundo e destruir os que considera mais fracos, inclusive mutantes como ele, defendendo não todos os mutantes como Magneto, mas uma raça pura dos mutantes. O próximo será, provavelmente, uma clássica luta do bem contra o mal, dos heróis contra um vilão, diferente do enfrentamento ideológico entre iguais que é a luta entre Xavier e Magneto, entre os X-MEN e a Irmandade e Mutantes.