Um filme bamburrado (publicado originalmente em 12/11/2013)

Uma das histórias mais curiosas e misteriosas do Brasil virou filme, finalmente. Isto porque é escuso dizer de minha recusa em aceitar ‘Os Trapalhões em Serra Pelada’ (1982) como obra-prima. O diretor Heitor Dahia (‘O Cheiro do Ralo’ – 2007) levou às telonas (estreou dia 18 de outubro) toda a exploração de Serra Pelada em fita homônima. Com cast recheado estrelas novas – Juliano Cazarré, Sophie Charlotte, Júlio Almeida, e os já veteranos, apesar de jovens, Matheus Nachtergaele e Wagner Moura – o longa narra a saga de Juliano (Cazarré) e Joaquim (Almeida, o Gonzaguinha de ‘Gonzaga: De Pai pra Filho’ (2012). Sem emprego, em 1980 partem rumo ao Pará quando sabem da existência de ouro lá. Logo, o ‘pacto de irmão’ feito por ambos é desfeito porque Juliano é ambicioso, enquanto Joaquim somente deseja juntar um bom bocado de cruzeiros e voltar ao lar, onde a esposa está com o filho recém-nascido (quando vai ao Norte, abandona a parceira grávida). Para piorar, o personagem de Cazarré se apaixona por Tereza (Sophie), ex-prostituta, noiva do coronel Carvalho (Nachtergaele), um dos reis do pedaço de Serra Pelada. Lindo Rico (Moura) é também um ‘empresário’ e seu papel só foi criado para o ator de ‘Tropa de Elite’ (2007, 2010). Na verdade, era ele quem daria vida a Juliano, mas por compromissos em Hollywood, Cazarré foi convidado e Moura fez sua participação especial.

‘Serra Pelada’ é rico em muitos aspectos. Prende o espectador com poucos personagens (5 ou 6 apenas), conta com a direção de arte apuradíssima de Eduardo Basile e uma fotografia espetacular. As filmagens dos garimpos, com as formigas trabalhando (como eram chamados os trabalhadores de braçada, ‘chão de fábrica’, como se diz), o enorme buraco onde estavam toneladas de ouro, foram em Mogi das Cruzes, numa mineradora. A produção arrecadou cerca de 1.600 figurantes e encheu o local de aspirantes a ouvires. Em Belém – Pará aconteceram as realizações das sequências dos prostíbulos e bares. Já em Paulínia-SP, num aterro sanitário, foram rodadas as cenas dos acampamentos. Foram cinco semanas, no fim do ano passado, usadas para as filmagens. Neste tempo recorde, Dahlia e sua trupe imprimiram e conseguiram um bom resultado. Particularmente Júlio Almeida se destaca entre os demais. Como estreante na sétima arte, Sophie cumpriu bem a obrigação. Juliano Cazarré parece não conseguir se livrar do estigma televisivo, dos papéis de carrancudos e brutamontes. É bom o ator prestar atenção nisto. M. Nachtergaele e W. Moura sempre se dão bem em frente às câmeras, claro, mas seria prudente ‘desaparecerem’ um pouco. W.Moura, aliás, em ‘Serra Pelada’ está careca, em um semblante até então inédito aos fãs. Ambos são ótimos, porém, dêem uma trégua para nossos olhos.

Nas cenas em que é mais exigido, Cazarré, mesmo com a boa direção de Dahlia, se mostra de uma insegurança atroz. Tenho pra mim que ele ainda se aprimora como profissional e precisa rodar mais pra atingir outro patamar. Filmes como ‘Serra Pelada’, onde lhe é imperioso o protagonismo na câmera, não é garantia de ápice. O contrário ocorre com J. Almeida. Ele roubara a cena em ‘Gonzaga’ e na produção dos garimpos a situação se iguala. Embora com similar barba à Gonzaguinha, o ator é de uma delicadeza ímpar. Daniel de Oliveira (‘Cazuza: O Tempo não Para’ – 2004) faria o seu papel, mas as coisas saíram melhores do que a encomenda. O jeito ‘branco’ e ‘limpo’ de Daniel com certeza deixariam a desejar em meio à lama, terra, sujeira e barro dos sets. Heitor Dahlia assina o roteiro. Do começo, levou quatro anos para ser finalizado. Wagner Moura é, ao lado dele, produtor do longa e de fato ‘Serra Pelada’ já está dando o que falar. Por exemplo: citaram as quentes sequências de sexo de Sophie e Cazarré. Nada demais vi. Soou-me frio e desinteressante se compararmos com o outro filme recente, ‘Faroeste Caboclo’, onde Ísis Valverde dá um show com a sua beleza e sensualidade. Tudo se aprende. O único ‘senão’ da trama, como bem lembrou o crítico Celso Sabadin, é a insistência de por as narrações em off no meio do filme. São muitas. Desnecessárias. Explicar demais estraga o público.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 12/11/2013
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