Uma nota só (publicado originalmente em 16/7/2013)
Em ‘O Homem de Aço’, estreado sexta-feira, Lois Lane sabe todo tempo dos poderes incríveis de Clark Kent. Este, por sua vez, está quase sempre com barba mal cuidada ou por fazer, trabalhando em lugares onde se exige a força. E há um ruivo, amiguinho de Kent desde as suas infâncias, também sabedor das anormalidades do sujeito. Quando finalmente estreia a roupa de super-herói (sempre é bom lembrar: sem a sunga vermelha), alguns pelos teimosos do peito cismam em ficar à mostra. Não bastasse tudo isso, Henry Cavill, o protagonista, tem em praticamente 100% das cenas um ar de ator de filme europeu: contempla a paisagem com olhares parados, como se pensasse, talvez, em como se livrar daquela armadura de gladiador à la Lady Gaga, como escreveu a jornalista Ana Maria Bahiana.
Estas são somente determinadas considerações negativas do longa-metragem com intenções trôpegas e finalização péssima. A fita segue padrões dos demais filmes de seu diretor, Zack Snyder. É o caso, por exemplo, de ‘300’ (2006) e ‘Watchmen: O Filme’ (2009). Ou seja, muitas explosões, lutas, desabamentos, vidros estilhaçados e fogos, tudo isso feito com os estupendos efeitos especiais, e isto é inegável. Mas se pensarmos que foi roteirizado pela dupla David S. Goyer e Christopher Nolan, da recente retomada de ‘Batman’, com ‘O Cavaleiro das Trevas Ressurge’ e afins, teremos aí totalmente a resposta a esta realização. O que foi feito, para encurtar a conversa, é a fita do nível destas citadas. Se você aprecia, então, histórias de alienígenas invadindo a Terra ou do fim do mundo, é prato cheio.
Defendo acintosamente neste espaço a repulsa a refilmagens de filmes clássicos. ‘Superman’ (1978) e Superman II: A Aventura Continua (1980) estão na lista. As tentativas não podem sequer ter a chance de existir. Em 2006, vimos o coitado do Brandon Routh vestindo o uniforme azul com capa vermelha e o resultado final soou mais como uma paródia de mau gosto da película dos anos 1970 do que a ‘tão aguardada’ volta do filho de Jor-El pras telonas. Eu não aguardava coisa nenhuma. Assim como assisti desde o início ‘Superman: O Retorno’ com minha má vontade, fiz igual com a estreia de sexta passada. Aí o leitor pode questionar: ‘Se foi já com a crítica na ponta da língua, não vale.’ Mas é o visto que vale e ‘O Homem de Aço’, sim, deixa bastante a desejar em tantos quesitos. Pode conferir.
No cinema é preciso ser conservador em diversos aspectos. Jamais, vocês concordem ou não, vai existir outro Superman com a interpretação e semblante ao de Christopher Reeve (1952-2004). E o mesmo vale pra o Lex Luthor de Gene Hackman, a Lois Lane de Margot Kidder, ao General Zod de Terence Stamp e ao Perry White de Jackie Cooper. Na produção de 2013, Amy Adams é a destemida repórter do Planeta Diário chefiado por Laurence Fishburne (!). Michael Shannon dá vida a Zod. Não para aí. O que dizer de Russel Crowe na pele de Jor-El, papel antes ocupado por um novato de nome Marlon Brando, ou Kevin Kostner como Jonathan Kent, no lugar do elegante Glenn Ford? Tudo bem que Adams é mais bonita do que Kidder, porém a vantagem se interrompe neste instante e se acaba.
E como não são bobos, os produtores deixaram uma peça a ser encaixada à próxima fita. Sim, ‘O Homem de Aço’ terá continuação. O ‘S’ do uniforme, que em ‘Superman III’ (1983) Clark Kent se arriscou dizer ser de Superman, na realização de Nolan e seus asseclas significa ‘esperança’, isto dito no linguajar de Krypton. A confissão é feita quando Superman (‘como as pessoas estão chamando o alienígena’) está detido e algemado (acredite se quiser!)... No fim das contas, o script mal ajambrado revela tudo o que os óculos grandes e inocentes de Reeve conseguiam escamotear. A sétima arte quer porque quer acabar com o ‘romance’ (é no sentido conservador, novamente). No filme de 1978 eram só estopins daqui, dacolá. No novo, prédios desabam, dentre eles o do Planeta Diário. Pobres de nós.
A cotação não foge, claro, do conteúdo da coluna: é ruim, péssimo, ou algo próximo disso aí.