5º Capítulo do livro “ Consagração "
Aniversário de Elizabete
O inverno já quase se findava. Aquele dia ainda amanheceu com um pouco de neve, uma tênue névoa cobria aquelas bandas do Colorado. Logo o sol esquentaria os seus raios e os últimos flocos de neve seriam dissipados. Mas não deixava de levantar a poeira quando os cavaleiros galopavam apressados . Bete amanheceu um pouco nervosa. Enfim chegara o dia do seu aniversário. Ela estava apreensiva , pois sabia que a noite estariam os convidados, principalmente o banqueiro Will Parkins. As cozinheiras iam de um lado pro outro da cozinha, preparando os alimentos. Seria servido churrasco regado a muito vinho, uísque e tequila. Durante todo o dia a movimentação no rancho El Dourado foi intenso.Os peões se escancaravam em risos , pois estavam de folga. Apenas ajudaria com algumas coisas que necessitassem para a festa como arrumar o enorme espaço com os lugares para assar a carne, os odres com os vinhos, as garrafas, bancos , mesas , cadeiras etc. Sara Haullins sentia um aperto no coração mas não disse a ninguém. Sentia que alguma coisa ruim aconteceria.Lá para as seis horas Bete já estava lindíssima diante do enorme espelho do seu toucador. Ela havia tomado o seu banho , experimentou vários vestidos e optou por um vermelho de seda, apertado na cintura , acentuando ainda mais a sua feminilidade e beleza. Com a gola um pouco alta, mas deixando a mostra um pouco do colo e pescoço, pequeninas flores também vermelhas destacavam-se ao redor da gola. A saia em vasê ,longa, dava –lhe um aspecto de mais madura, deixando-a ainda mais mulher. Os seus olhos azuis destacavam-se com um intenso brilho, poderiam ser alegria mas também apreensão. Só a moça sabia o que lhe ia a mente. Calçou umas botas pretas de cano médio, e anelou ainda mais com uma escova as pontas dos cabelos médios que caíam até os seus ombros. Bete era linda, educada, elegante, mas era determinada, com um forte temperamento. No pavimento inferior do rancho os convidados começavam a chegar. As mulheres chegavam de charrete , acompanhadas dos parentes, algumas dos maridos, outras de irmãos ou alguém de confiança da família. Todos que iam chegando perguntavam pela moça, já curiosos em vê-la , pois a beleza da moça já corria por todo o Estado.Os cavaleiros chegavam com roupas pretas, chapéus de couro , cabelos lavados , mas os colts nos cinturões. Eram os peões dos outros ranchos da redondeza, alguns mineiros mais atrevidos , que se atreveram a aparecer sem serem convidados. A enorme sala já estava lotada. Os violeiros já estavam a postos para começarem a tocar as rodas de viola. Tal foi a surpresa quando Bete apareceu na escadaria esplendidamente bela. Os murmúrios de admiração ecoaram pela sala. Bete desceu os últimos degraus onde estava sendo aguardada pelos seus dois irmãos. Paul estava todo esporte, calça clara e blusa xadrez, um sorriso nos lábios ao ver sua querida irmã. Robson vestia uma calça de tecido escuro e uma blusa cinza. O senhor Jacob já estava andando e conversando com os convidados, contando sobre a beleza da noiva ; a senhora Sara encontrava-se sempre ao lado do marido para atendê-lo no que precisasse. Às vezes ia até a cozinha para ver os temperos e os preparativos. Bete sentiu um aperto no peito ao encontrar os olhos do senhor Will que não deixava de admirá-la nem por um instante. Mas Bete desviou o olhar, fez um movimento de cabeça , cumprimentando com um boa noite a todos. Os rapazes começaram a conversar entre si. A música começou a esquentar a sala. Bete observou que uma amiga sua, há muito tempo não a via, estava com seus pais mais ao fundo do salão. Aproximou-se da amiga Cléia , uma moça simpática , com os seus vinte anos, morena, olhos pretos, corpo esguio , cabelos pretos e longos. Muito bonita também a sua amiga. Cumprimentaram-se com beijinhos e começaram a conversar. Bete indaga: - Quanto tempo amiga que não a vejo, uns dois anos mais ou menos. Por onde tem andado?
Cléia eufórica responde : - Bete, viajei durante esse tempo pro Texas , fiquei com os meus pais resolvendo algumas questões do rancho , mas nada sério. Também aproveitei para descansar um pouco. Bete ouvia atentamente a sua amiga Cléia. Logo uma música envolvente chamou a atenção dos rapazes. Dois vaqueiros aproximaram-se das damas , pedindo que dançassem com eles. O mais alto, moreno, de nome Dan, olhava para Bete esperando que ela aceitasse. A moça aceitou dançar com Dan. O outro rapaz, River, loiro, olhos azuis foi dançar com Cléia. Todos os casais resolveram ir pro meio da sala também e participar da festa. Os outros convidados conversavam e colocavam as novidades em dias. O senhor Jacob falava da mina, do gado, até do círculo misterioso comentou com alguns convidados, onde fizeram uma rodinha e a conversa começou. Muitos não fizeram caso do ele falava, alguns já sabiam da sua fama, e também sabia que toda aquela riqueza que ele tinha, as milhares de cabeça de gado , muitos já ouviram falar que eram roubadas das manadas que atravessavam de um Estado para o outro. Mas o Senhor Jacob possuía muitos homens a seu serviço, e nenhum queria perder o emprego, ainda mais se soubesse que vinha do rancho dele. Assim o tempo passava e a justiça não era feita. Bete já havia dançado umas três músicas, sentiu-se um pouco cansada. Pediu desculpas e retirou-se para o lado , onde sua mãe a olhava. Aproximou-se de sua mãe e reclamou:
-Mamãe , não agüento esses rapazes sem modos. Todos são valentões e eu já estou cansada disso.
-Paciência Bete. Pede a mãe. Vá tomar um ar fresco, depois você volta. Foi o que Bete fez. Saiu como se não quisesse nada e conseguiu alcançar a varanda. Da varanda foi logo Pra debaixo de uma enorme árvore . Encostou-se no tronco respirando profundamente o cheiro noturno das plantas e pequenas flores existentes no jardim , no lado oposto ao rancho.
-Boa noite Senhorita Elizabete. Por que está aqui sozinha ? Bete tremeu. Olhou rapidamente atrás dela e reconheceu o Senhor Will na penumbra da noite.Seus olhos faiscavam furiosos. Ela odiava aquele banqueiro.
Autora : Margareth Rafael