A alternativa (publicado originalmente em 4/6/2013)
A onda renatorusseana segue no cinema. Depois do frustrante ‘Somos Tão Jovens’ (2013), na quinta-feira da semana passada estreou ‘Faroeste Caboclo’, longa-metragem livremente inspirado na música de mesmo nome composta pelo líder da Legião Urbana em 1979, lançada oito anos depois, no disco ‘Que País é Esse?’. Trata-se da história mais bem montada se comparada a cinebiografia.
O cast também é melhor preparado e mostra a bela Ísis Valverde debutando na sétima arte. Por curiosidade a fita marcou o derradeiro trabalho de Marcos Paulo, ator falecido ano passado, aos 61. Àqueles que jamais ouviram a canção, tem nove minutos de duração e é a segunda mais longa do repertório de R. Russo, atrás apenas de ‘Metal Contra as Nuvens’. ‘Faroeste Caboclo’ conta história de João de Santo Cristo. Menino pobre, viu seu pai ser morto por um soldado e cresceu revoltado. Foi a Brasília tentar a sorte, conheceu um boliviano /peruano de nome Pablo, primo dele, e tornou-se traficante e rival de Jeremias, o então manda-chuva do pedaço, um playboy bem metido. Neste ínterim conheceu Maria Lúcia, a filha de senador. Os dois tornam-se amantes, namorados, para ciúme de Jeremias. A dupla de rivais deixa Brasília de pernas para o ar. E no duelo final, a tragédia de Renato Russo vem à tona.
Com orçamento de R$ 6 milhões, ‘Faroeste Caboclo’ foi acertadamente filmada em Brasília e teve cenários erguidos no interior de São Paulo. Além da estreia de Ísis, o diretor René Sampaio, da mesma maneira, está em sua obra primeira na telona. Ademais, o elenco conta com o ótimo Fabrício Oliveira no papel de João de Santo Cristo, Felipe Abib como Jeremias, Cesar Troncoso, do estupendo ‘O Banheiro do Papa’ (2007), na pele de Pablo, e Antônio Calloni vivendo Marco Aurélio, policial de fama duvidosa, corrupta. José Carvalho (de ‘Bruna Surfistinha’ – 2011), Victor Atherino (‘Somos Tão Jovens’) e Marcos Bernstein (de ‘Central do Brasil’–1998, ‘Zuzu Angel’–2006 e ‘Chico Xavier’ –2010) são os roteiristas.
Com este time, não teria como entornar a qualidade da trama. Porém, adendos têm de ser feitos. O crítico Inácio Araújo escreveu que o script se preocupa em demasia em querer colocar cada verso da música na tela, não arrancando surpresas da plateia neste sentido. Discordo. Por ser a fita baseada na canção, ‘Faroeste Caboclo’ tinha de ser rodado da forma que foi, tatibitate, explicativo ao público em geral. Um exemplo contrário é ‘Somos Tão Jovens’, onde roteiro explora e força várias situações inexistentes. O meu tom negativo de ‘Faroeste’ vem do excesso de mexicanismo dos atores.
Uma pitada de culpa nisto é de Sampaio. Pela inexperiência na telona, o diretor exagera nos pedidos dos atores e o que vemos são excessos. Ísis, por exemplo, às vezes parece estar na TV Globo filmando a cena da novela. Ponto à virgindade da atriz na sétima arte. Entretanto, isto não acontece com profissionais do calibre de Troncoso e Oliveira, acostumados ao ambiente dos sets. São da dupla os melhores instantes do filme, onde os diálogos são temperados por uma química existente entre os dois. Por momentos temos impressão mentirosa de estarmos vendo ‘Cidade de Deus’ (2002) ou uma produção brasileira qualquer onde reinam drogas, sexo e assassinatos. Mas não.
O que temos diante dos nossos olhos é uma adaptação da música que marcou época, uma geração de adolescentes com a sede de democracia e justiça. Sobre ‘Eduardo e Mônica’, o anúncio do longa-metragem era mentiroso e serviu somente para propagandear o Dia dos Namorados. Mas, se pensarmos direito, daria o caldo bom se fosse feito. Portanto, Renato Russo segue vivo na arte. Nos 53 anos de vida e 17 de morte, os fãs podem apreciá-lo de diferentes formas. Sobra a nós, cinéfilos descarados, a companhia da pipoca no cinema, e ter muita paciência de encarar filas para comprar os ingressos. Pelo menos, temos esta alternativa à ‘Velozes e Furiosos 6’, não? Isto já é alguma coisa. Cotação de ‘Faroeste Caboclo’: bom.