Os signos cristãos em Sailor Moon

Costuma-se dizer que no Japão o Cristianismo é quase inexistente. Entretanto, a série Sailor Moon, de Naoko Takeushi, parece desmentir tal afirmação, em se tratando de uma das séries japonesas de maior prestígio em todo o mundo.
Embora o mangá não tenha ainda sido editado no Brasil, sabemos que no seu final (e na edição original são 18 volumes) a mística heroína Tsukino Usagi (Sailor Moon) casa-se com Chiba Mamoru (o Tuxedo Kamen) na Igreja Católica.
Não sei qual é a religião de Naoko Takeushi, mas ela parece bastante influenciada pelo Catolicismo. Se examinarmos o desenho animado — duzentos episódios produzidos entre 1992 e 1997, além de alguns especiais — encontraremos de forma constante os símbolos cristãos. Por exemplo, no episódio 44, “Serena desperta: uma mensagem do grandioso passado” (Serena é o nome ocidental da Usagi) vemos como a Rainha Serenity, do reino lunar, sacrifica-se para que os outros possam viver, e morre sobre duas colunas cruzadas, uma cruz portanto. Depois, no episódio 46, que encerra a Fase Clássica, Sailor Moon morre e ressuscita pela humanidade, afirmando aí o seu caráter messiânico.
Esse aspecto de Sailor Moon-Messias torna-se ainda mais explícito na terceira fase do anime, a Fase S (Super Sailor Moon). É quando a Princesa da Lua recebe o Santo Graal como arma mística de combate e enfrenta a invasão do Messias das Trevas. Nesta fase aparece uma freira (Irmã Ângela), como num dos episódios da Fase Clássica aparece um padre. A freira reaparece no quinto arco, a Fase Stars.
Isso faz lembrar o seriado de imagem real feito entre 2003 e 2005, onde um dos episódios mostra também um sacerdote católico; e também as guerreiras Aino Minako (Sailor Vênus) e Hino Rei (Sailor Marte) ajoelhadas na igreja, rezando de mãos postas, em profundo respeito.
Neste mesmo seriado de ação viva, assistimos uma bela cena no episódio “zero”, que revela a origem de Sailor Vênus. A adolescente Aino Minako encontra-se num terraço, na véspera de Natal, ouvindo a gravação de “Noite feliz”, cuja letra fala na “criança divina” (Jesus Cristo). Como se vê, os sinais do Cristianismo estão espalhados pela franquia, e isso é algo verdadeiramente notável se refletirmos no grau de paganização das histórias modernas.
E mais se pode observar, como na transformação final de Usagi na última fase da série de animação, quando Sailor Moon adquire grandes asas emplumadas, parecendo um anjo.
As “sailor-senshi” (marinheiras-guerreiras) seriam seres intermediários, por suas prerrogativas, entre os homens e os anjos, como guardiãs do universo físico. E Sailor Moon, com suas extremas pureza e bondade, a principal delas, que as outras veneram. Dirá ela em sonho a Hotaru, na Fase Stars: “Sou eu quem protege as pessoas. E também sou uma Sailor que nasce do amor. Sou eterna”.
Não faz lembrar, e muito, a mística cristã? Não parece existir todo um código cristão ao longo da saga?

Rio de Janeiro, 19 de julho de 2011.

NOTA: o mangá chegou finalmente ao Brasil pela Editora JBC, em 2014, na versão de 12 volumes de 2004.

imagem da franquia: Sailor Moon (das maria-chiquinhas) em primeiro plano, seguindo-se na direção do ponteiro do relógio: Sailor Marte, Sailor Júpiter, Sailor Vênus e Sailor Mercúrio.

 

Nota em 14/4/2023: só para completar, Naoko Takeuchi é xintoista e até exerceu como sacerdotisa (miko).