À BEIRA DO CAMINHO – critica de filme
À BEIRA DO CAMINHO – critica de filme
Foi uma grata surpresa de páscoa assistir ``À Beira do Caminho``, filme de Breno Silveira.
Já faz tempo que tenho dito que o cinema brasileiro tem nos surpreendido. Acredito que o grande problema brasileiro no cinema é que queremos fazer filmes baseados em Hollywood, mas não precisamos; temos um jeito nosso de fazer cinema, temos uma geografia espetacular, história também idem e por outro lado a cada dia que passa Hollywood está fazendo filmes cada vez mais violentos e no minimoo insdiscretos, ou seja, filmes que não dá pra assistir com a familia toda.
À Beira do Caminho é fantástico. Pra começar o filme é um road-movie, totalmente embalado pelas musicas de Roberto Carlos. João (papel de João Miguel, fantástico) é um caminhoneiro atormentado pelo passado. O filme corre grande parte do tempo em silêncio que vai sendo cortado aos poucos e vai desvendando aos poucos a história que acreditamos erroneamente que já sabemos como vai ser a próxima cena e ela não é o que pensavamos. No caminhão de João que vem descendo o Nordeste brasileiro, até chegar a São Paulo - portanto teremos paragens espetaculares e a vista de cidadezinhas absolutamente desconhecidas – um menino vinha escondido como clandestino e quando João o descobre quase leva um tiro. O papel do menino é feito por Vinicius Nascimento, que tendo a mãe morta, tenta ir a São Paulo encontrar com o pai que nem sabe que ele existe e que ele nunca viu. João é atormentado por um triangulo amoroso que acabou tragicamente. João ama a Rosa (personagem de Dira Paes, que já começa a dispensar apresentações, ela é demais). De cara entendemos que João traiu Rosa, que o mandou embora. João era um cantador de musicas do Roberto Carlos, quando jovem, alegre e brincalhão dá lugar a um homem soturno, que não sorri nunca, que mora no caminhão, sem familia, sem ninguém triste e amargurado. Flashes do passado vão aparecendo e contando a história que só vai nos surpreendedo a cada passo.
À Beira do Caminho nos engana em alguns momentos, onde pensamos que já sabemos de tudo e só vamos compreender mesmo é no fim. Literalmente o melhor está no fim. A visão do Nordeste brasileiro e das grandes estradas de terra batida, na escuridão da noite, onde o caminhão quebra, ou para, perto de rios e cidades é único. É dificil não lembrarmos, mas muito de longe, do meu filme nacional preferido (só pode ser, pela quantidade de vezes que o vi e pela vontade constante de o revisitar) Bye Bye Brasil. Mas a comparação de À Beira do Caminho com Bye Bye Brasil é acidental, é só pelo fato de que assim como o antigo, um outro caminhão agora roda o Brasil. Ali o caminhão de Bye Bye tinha até nome, esse não. Aliás esse caminhão não é personagem, o outro era.
À Beira do Caminho tem passagens que nos prendem: queremos saber, até o fim, qual é o tormento de João, por que ele é assim, e quando sabemos queremos ver qual é a solução que ele vai dar, ou não, sempre existe a possibilidade de que ele não resolva o problema.
Rosa (Dira Paes) sempre aparece, e só aparece, em cenas romanticas carregadas de sentimento. Saimos do filme amando Rosa e torcemos que João fique com ela, mas é complicado, entendemos que é muito complicado. João traiu Rosa e é muito dificil esse perdão, algo aconteceu. O filme nos dá a entender que João traiu Rosa e saiu com sua melhor amiga e que quando a estava levando a algum lugar, provavelmente após terem namorado no carro, o carro de João bateu e a moça morreu. É mais ou menos isso, mas é uma surpresa ver que é mais do que isso, muito mais do que isso.
O garoto vai transformando o motorista, assim como o motorista, bruto, bravo, quieto, vai também transformando o garoto. Cada vez mais, ao irmos descobrindo a história da mãe do menino, conforme ele mesmo fala, vamos notando que o pai desconhecido do menino vai se distanciando, ou que algo trágico vai acontecer.
O filme não decepciona em momento algum, ele não cria expectativas infundadas e todas as pontas vão se dando um desfecho, e como a vida, muitas vezes não é aquilo que esperávamos.
O filme em algumas vezes é lento, sem pressa, mas vai construindo personagens dificeis de sairem de nossas mentes. Fiquei amando Rosa, entendo João, e espero que o garoto tenha um futuro.
Outras personagens, que não vou falar, mas que são imprescindiveis para a história vão aparecendo e vamos amando-as também. Alguém, lá pelo fim do filme lê uma carta que João vinha escrevendo pelo caminho e vemos uma carta toda rabiscada, nas mãos dessa pessoa e só uma frase sobra, junto com sua assinatura: Me Perdoa, essa cena dói na gente, tanto pelo João, quanto pela pessoa que está com a carta.
Lá pelas tantas João encontra-se também com sua mãe (que com quase fala nenhuma, consegue transpor um personagem dos mais fortes), que num abraço triste fala tudo o que poderiamos querer entender. Aliás, João é quase mudo, fala pouco, em sua tristeza.
Nós que estamos acostumados com cinema holywoodiano, onde X-men ou supers alguma coisa sempre estão na pauta, quando pegamos um filme desses, podemos até estranhar. Com absoluta certeza esse filme é cinema de primeira. A trilha sonora é fantástica, toda ela embalada pelas musicas do Roberto Carlos. Só duas vezes não é o Roberto quem canta, numa é o próprio João, numa festa, quando ele era alegre ainda, e outra por uma cantora.
À Beira do Caminho é lindo demais e belo demais e triste demais. Num drama horrível, temos algumas cenas que adoramos, como quando o garoto joga água na cabeça de João, ou quando a menina está na boléia do caminhão, ou quando Rosa deixa tudo, para seguir João, tornando-se mulher de caminhoneiro, mormente quando vamos descobrindo que ela não era uma caipira qualquer.
Gostei ainda, fim de tarde, a familia toda na sala, quando Rosa está tomando banho no rio à noite e com uma camisola que não mostra nada, vem toda molhada e começa a beijar João. Ela chega a ficar nua, mas o filme não apela para nudez desnecessária e passa essa cena com muita tranquilidade, apesar de que entendemos claramente o que estão fazendo. Não precisa dizer que nessa hora fiquei apavorado, pensei comigo, pronto, acabou o filme e só vou poder assistir o final sozinho e quando todos estiverem dormindo, mas conseguiram fazer de modo que mesmo uma cena ´´quente´´ fosse possível ser vista por toda a familia, sem baixaria. Aliás eu estou cansado de baixarias. Nem os filmes que passam à tarde estão dando pra ver. Este, pra mim é um ponto importantíssimo, pois quando compramos um filme de comédia não queremos ver pornografia, mas comédia; ou quando compramos um filme infantil, não queremos ver violência, mas uma boa história infantil. O filme é m,uito tranquilo nisso, pois tem história, o que não está havendo com muitos filmes holywoodianos.
Enfim, À Beira do Caminho é um baita de um filme e esse eu recomendo, com louvor.