ARGO

Assisti, hoje, mais um filme do Oscar, dessa vez, o próprio ganhador do grande premio principal, Argo.

Pra começar devo dizer que aquela frase que andei lendo no Faceboock “ E o Oscar vai para a Cia...”, não procede.

O filme me fez voltar 34 anos no tempo. Em 1979 eu acompanhava cada lance no noticiário sobre a crise dos reféns da Embaixada americana no Irã; ao mesmo tempo em que louvava a revolução iraniana, me sentia solidária com os reféns,.E lembro bem que o Aiatolá Khomeini, o comandante da revolução e chefe religioso no país, não viu com bons olhos a invasão da embaixada pelos estudantes iranianos.

Contudo, não podia, formalmente, se colocar contra o seu próprio povo, afinal eles estavam se manifestando contra o asilo americano ao Xá deposto e pelo seu retorno ao Irã para ser julgado como criminoso, que na verdade, ele era(na narração inicial do filme, a voz feminina fala das atrocidades que ele cometeu) .

O filme começa muito bem, com essa voz feminina narrando a historia do país, desde quando era Império Persa. E contando sobre o golpe que os EEUU deu lá dentro depondo um Presidente legitimo e colocando o Xá.

Realmente, como ela conta na narração, com o triunfo da revolução,estabeleceu-se certo caos e quem fosse fosse considerado inimigo da revolução era enforcado na via pública, sumariamente, e americano ,então, valia muito pouco!

Foi realmente assustador para nós ocidentais, gente “ de paz” .

O filme narra a historia de um agente da CIA especializado em resgate de pessoas, que é chamado para tirar do Irã um grupo de 6 pessoas que conseguiu sair da embaixada na hora da invasão e foi se abrigar na embaixada do Canadá depois de ter sido recusado em duas outras.

O Canadá, por sua vez, não estava a fim de arcar com essa responsabilidade e se conflitar com o novo governo do Irã ,então, os EEUU chamaram um agente treinado especificadamente para resgate de gente, em off, ou seja, se ele fosse pego, não teria nenhuma proteção.

É essa a historia do filme.Emocionante, eletrizante, tensa, até divertida em alguns momentos e cheia de referencias pejorativas e irônicas sobre a CIA

O governo estadunidense na época não era tão truculento, era Jimmy Carter. Que conduziu tudo com muita calma tanto que nenhum refém foi morto.Afinal, tanto Carter como Khomeini sabiam que uma embaixada é um país dentro do outro e não pode ser invadida.

O filme é sobre a operação Argo que tirou os 6 americanos da casa do embaixador do Canadá e os colocou em um voo para a Suíça.

Foi uma operação secreta só revelada muito depois.

Os fatos são verídicos tanto que ao final todos os personagens são mostrados ao lado dos atores que os protagonizaram.

Na verdade tem vários momentos que eu destaco:

-A cena da invasão da embaixada,o povo sem manifestando, gritando contra o asilo ao Xá, muito bonito mostrarem isso, pois o povo soberano quando se revolta é fantástico!

-As crianças iranianas montando o quebra-cabeças( as fotos dos funcionários da embaixada que conseguiram fugir e que foram cortadas pelos demais) ate o ponto crucial em que os iranianos descobrem,através das tiras montadas como quebra-cabeças pelas crianças, quem são aquelas pessoas que estão saindo do país como cineastas que estão procurando locações para filmar Argo.Mas descobrem atrasados porque eles conseguem embarcar.A cena dos iranianos perseguindo o avião antes de decolar é bem interessante.

-O outro momento é quando o funcionário do Ministério das Artes e Cultura diz ao Tony Mendes, mas disfarçado,usando outro nome, ( agente da Cia- Bem Affleck) quando pergunta a ele o que ele foi fazer no país e refere “ o taL fascinio pelo Oriente médio, quer ver os tapetes voadores, as lâmpadas mágicas”. Em uma alusão irônica ao que o mundo ocidental pensa ( erroneamente) sobre o Oriente Médio, ao Irã mais precisamente já que um dia foi Pérsia, o ambiente dos contos famosos de “As mil e uma noites” que tanto acalentou os sonos de tantas crianças no mundo, inclusive o meu- alguém lembra do Ladrão de Bagdá- afinal teve uma época em que Iraque e Irã foram a Pérsia!).

Ao final, uma fala do Carter sobre a operação Argo, falando da completa libertação dos reféns,ilesos, que passaram mais de 400 dias dentro da embaixada, na verdade, o Aiatolá trabalhou para essa libertação, ele não tinha interesse em ter reféns americanos.Queria reconstruir o país dentro dos princípios islâmicos xiitas( embora certos ocidentais abominem isso, mas existe, é uma cultura, um povo)

Outro ponto de destaque do filme é quando ocorre a invasão da embaixada que os americanos dizem para ninguém atirar, para não matarem ninguém pois assim iriam morrer todos!

Na verdade, até poderiam pois era um país que estava sendo invadido.

O problema é que a tal CIA até há bem pouco tempo havia garantido aos americanos que não havia a mínima possibilidade de revolução no Irã.Aliás a tal “ inteligência” é bem ironizada no filme, havendo a referência que se fosse realmente inteligência teriam detectado .

O Irã não foi dominado apesar de terem os EEUU fomentado uma guerra entre Irã e Iraque , inclusive ainda na época da crise dos reféns, naturalmente para desviar os olhos do mundo da questão que custava a se resolver e desestabilizar a revolução iraniana , guerra essa que durou tantos anos mas que não enfraqueceu o Irã e não o fez ser dominado novamente pelos EEUU, entretanto, acabou como acabou para o Iraque , que apesar de Sadam ter ajudado tanto os EEUU, foi mais tarde até caluniado que tinha mísseis, perseguido e seu país invadido pelos americanos em 2003 .Ele foi enforcado e o país nunca mais se reergueu continuando a ser já há mais de dez anos palco de tanta destruição e morte.

Hoje em dia os EEUU tentam acusar o Irã de tantas coisas, se metem na cultura, na forma como punem os criminosos, criticam, espalham o terror. E tem muita gente que acredita.

Os EEUU não aceita que país nenhum que não seja seu cúmplice tenha programa nuclear.Principalmente do Oriente Médio, onde tem o petróleo.

Bom agora, eles estão voltados para Venezuela. Na verdade, as maiores reservas de petróleo também estão lá,e Chavez morto, eles vão achar que é terreno fértil para preparar golpes contra a democracia venezuelana.

Vem coisa feia por aí!

Mas voltando ao assunto , o filme ganhador do Oscar.

Recomendo o filme, é um bom entretenimento, o Affleck mandou bem como diretor e ator, Eu assisti o filme isenta de qualquer preconceito sobre o Oriente Médio, na verdade, nada tenho contra eles.Aliás, tenho também aquele fascínio que o personagem fala no filme!

Mas quem acredita em tudo o que o Tio Sã diz vai louvar o" heroísmo" americano.

E mesmo quem não louva, se não prestar atenção nas entrelinhas e nos diálogos, vai achar que é uma apologia à CIA.

Mas eu não considerei assim

NINFEIA G
Enviado por NINFEIA G em 06/03/2013
Código do texto: T4175006
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