FILME “PEQUENOS MILAGRES” E A BUSCA METAFÍSICA

FILME “PEQUENOS MILAGRES” E A BUSCA METAFÍSICA

Um homem se vê desesperado e planeja se suicidar. Recebe antes um presente de amigos: Um GPS com defeito, e leva junto este em seu carro, se evadindo para o deserto a fim de cometer o ato que porá fim a sua existência. Assim que pega a pistola e aponta para a cabeça, o GPS diz: “Por favor, dê meia volta. Está no curso errado do seu destino”. Então o homem percebe uma força exterior e metafísica, algo que vai além de sua compreensão e segue o que diz o GPS de Deus, seguindo no deserto até o rumo. Outras duas histórias de desespero acontecem, e o filme cruza esses dramas, a fim de encontrar Pequenos Milagres.

Uma mãe vai a escola por reclamação de diretores, haja vista a filha estar usando celular na sala de aula. Descobre que foi esse celular que salvou sua vida, pois a menina ouve uma palavra que cada dia vai salvar a vida de ambas, e assim a voz de Deus. A menina assim faz a prova e ambas, ela e a mãe, quase caem da cobertura do prédio, sendo salvas por uma mão. Assim ambas seguem estrada e vão até o destino, que se cruza com outros, ambos em desespero existencial.

Há ainda um rapaz que procura um adolescente que deseja se suicidar, e ele encontra em meio a cemitério de aviões, como se isso fosse uma linguagem em metáfora para dizer que o ser humano tem potencial de voar e seguir longos destinos, optando pela morte. Atendendo a irmã psiquiatra, esse rapaz chega ao menino e conversa com ele, falando de sua experiência com vida amorosa, igualmente triste e frustrante. Ambos se encaminham até a praia onde o menino desejava por fim a sua vida, por entender viajar no tempo e salvar assim sua namorada de afogamento.

Frente ao mundo pós-moderno, materialista e cético, a busca metafísica e mesmo de Deus está cada vez mais distante. Precisamos ganhar dinheiro e comprar, e nisso se resumiu a vida pós-moderna. Esse mundo de cabeça para baixo, o mundo metafísico se vê escondido, e nem mesmo Heidegger conseguiu talvez o explicar. A filosofia moderna se preocupou com a linguagem e com mecanismos, esquecendo da dimensão extramaterial que nos envolve. Perdemos o contato com as forças invisíveis e cósmicas, e assim ficamos perdidos, sem ouvir a voz divina. E o GPS e o telefone do filme revelaram que a razão deve estar unida a fé, voltando assim nós a Agostinho de Hipona. Não temos mais alma, estamos dormindo para a alma. Assim esse filme em muito tem essas lições, tendo por fim algo que será bom, e também a fatalidade, que envolve os destinos. O filme em todo o momento lida com o inesperado e faz pensar, uma escolha boa para ir além de filmes mercadológicos. Também um tanto existencialista, voltando mesmo até a Kierkegaard, superando Sartre e também a Nietzsche. O centro para mim ficou no início e na voz de Deus, que fala e que não ouvimos. E Deus está vivo. Assim seu mundo que parece para nós metafísico, se mescla ao físico, feito dois relógios sincronizados. Um filme bom e que é diferente de tudo que assisti. Mais uma dica de meu amigo Patrick Vicente. Que possamos perceber o Ser que está por trás de todas as coisas.

(parte de livro Filmes e filosofia, pela editora AGBOOK)