Doutor Jivago: paixão e a luta de classes

Doutor Jivago: paixão e a luta de classes

Esse filme de David Lean é o melhor de todos. Com fotografia que faz abrir a boca e som que igualmente nos coloca no clima do drama, fato é que para mim tal obra teria de iniciar este livro. Com atriz premiada, Julie Christie e Geraldine Chaplin, esta última filha de Charles Chaplin, o filme foi indicado a 10 Oscar e ganhou 5. Mas começa com um jovem casal formado por irmãos, ele adotado, e assim o Dr. Jivago já estava em seus estudos de medicina e sonhos retratados em poesias. Mas com a Revolução Russa a coisa mudou, e aqueles das classes altas tiveram que ter em suas mansões o povo como hóspede: na verdade não eram mais donos de nada.

O Jivago vai para a guerra e conhece Lara (Julie Christie), bela loura que hipnotiza com sua graça. Ela é enfermeira e ele médico, e ambos ajudam muitas pessoas em meio à guerra. Amigos ainda. Ou mesmo que com um inocente caso, ele antes casado com sua irmã de criação, agora se vê frente a uma paixão não programada, real paixão. Ela que namorava um revolucionário, depois espécie de ditador, e ele cheio de sonhos retratados em seus versos áureos, mas distantes da luta de classes a que se envolvia sua terra.

O filme é um longa. Então prepare a paciência e entre no clima. Ás vezes com neve e muita batalha, sem contudo chegar a ser um filme de ação. Também um filme que vai de um livro encontrado do médico, até a história em tempo real dos fatos que envolvem esse dois amantes. Mas não é um filme centrado nisso, mas nos leva a viagens de trem, a revoluções e emoções não presentes em outras produções. O filme vai além de O vento levou, com o tema da guerra, e muitos da crítica diziam ser apenas paródia da Guerra Fria.

Mas enquanto houver mais valia, participações irrisórias de lucros, salários baixos e toda a gama de reclamações sindicais, haverá assim a luta de classes. Pois os donos dos meios de produção serão os mesmos, e o capitalismo ainda é o meio mais sintonizado com as pessoas, que gostam de ter coisas, que na verdade são o próprio “ter”. E no comunismo ninguém tem nada, além dos burocratas, então o sistema não vinga. Claro que alternativas sociais como Kibutz israelense pode funcionar a fim de eliminar a fome, mas sempre as paixões falarão mais alto. E Jivago e Lara nada mais representam que a crise existente em relacionamentos que não se sustentam, em sonhos irreais que se rompem frente à verdadeira essência das coisas, no caso seus mais íntimos desígnios. Isso se simbolizou pela paixão. Assim eles desafiam um ditador, passam por guerras, dificuldades, fome, frio, tudo isso em paisagens mais do que belas, numa obra prima do cinema. O filme resumo o sonho do poeta, bem como do médico, na cura maior, na liberdade e vitória sobre a opressão e ditadura.

(Trecho de livro Filmes e filosofia, do mesmo autor, pela editora AGBOOK)