Estamos rendidos (publicado originalmente em 20/11/2012)
Logo na compra dos ingressos, vi uma mulher a reclamar sobre o filme ser legendado. Outros horários estavam cheios, ela deveria se contentar com o par de bilhetes. Mas não. Vendeu-os para fã de última hora. Esta também chateada pelas letrinhas na tela. A conclusão era: fazer o quê? Descobri sobre alguns brasileiros a preguiça. Primeiro, de ler as legendas. Segundo, querer sentar sempre nas poltronas do fundo. Que bando! O adorável dos cinemas é sentar na fila do gargarejo. Quase sempre as ocupo. Truffaut ou Godard, não me recordo quem, dizia que ao ver filmes na primeira ou segunda fileiras você recebia as imagens antes dos demais da salona. Licenças poéticas à parte, vamos ao que importa: ‘Amanhecer – Parte 2’, o fim da ‘Saga Crepúsculo’, chegou cinco dias atrás e arrebatou meio mundo. As garotinhas sedentas por Robert Pattinson. Os menininhos prontos a ver Kristen Stewart.
O bafafá do ano em Hollywood, claro, envolveu o casal 20 do século 21. Kristen traiu Robert, notem, com o diretor do recente ‘Branca de Neve e o Caçador’, Rupert Sanders (é casado, pai de dois filhos). Segundo se diz, fumaram e não tragaram. Foram apenas beijos e nada mais. Porém, o estrago estava impecável. Às vésperas de estrear a maior renda do ano, a dupla de vampiros teens se separou e reatou, tudo conforme o figurino, antes de a fita inundar os ecrãs mundiais. Robert e Kristen foram às recepções, juntos, garantindo amor eterno mútuo, ao delírio das macacas e macacos de auditório.
Ao filme. Tatibitate, o diretor Bill Condon (também da 1) tentou mostrar na 2 Bella (Kristen), de olhos vermelhos (sem álcool na história, somente vampiros), lidando com os poderes e magias de seu novo estado. À diversão de Edward (Robert), interage com membros do clã Cullen e testa a força e o dom de lançar proteção. Simultaneamente, Renesmee (Mackenzie Foy), a rebenta do casal, torna-se ameaça aos Volturi, raça ruim dos dentuços. Aro (Michael Sheen, de ‘Frost / Nixon’, 2008), o líder deles, quer matar a criança. Assim, a batalha final está certa para ocorrer. O roteiro é a base do livro de Stephanie Meyer, e tem uma sacada esperta e de surpresa no setor do confronto, e não a revelarei.
O encerramento da quintologia, ou qualquer nome a que isso valha, resume, para desgosto de fãs e moças de gritos estridentes, o fim da carreira de Pattinson no cinema, no papel de galã. Ele, que já esteve em outro blockbuster, ‘Harry Potter e o Cálice de Fogo’ (2005), se arriscou e se deu bem no quesito fama. A partir de agora, terá de lutar pelo pão dos próximos longas-metragens. Nós, público, estamos rendidos à mercê da fábrica de rostos bonitinhos. Na medida em que ‘Amanhecer – Parte 2’ avançava, e as garotas suspiravam de paixão, pensei nas consequências daquilo tudo. Não se trata de a fita ser boa ou ruim, pois analisar um romance de tortas vias seria raso demais (a história é curiosa, porém, fraca no que diz respeito à qualidade da finalização – de filmes de vampiros, escolho clássicos como ‘Nosferatu’, de 1922, ou ‘Drácula, de Bram Stocker’, de 1992). O trio de protagonistas –além de Robert e Kristen há Taylor Lautner, lobo Jacob, amor platônico (mas não tanto) de Bella – esteve em projetos paralelos, os quais não fizeram tanto sucesso assim. Claro, arranjaram milhões de dólares de ingressos, todavia ficou por isto, e sem elogios, prêmios, artigos significantes acerca das películas.
Por fim, os destaques da trama ficam por conta de Sheen e Kristen. Do primeiro, o talento de ator mostrou-se de forma lustrosa quando interpretou o jornalista David Frost. Em ‘Amanhecer’, seu Aro está assustador e igualmente delicado. De Kristen, o que se pode afirmar? Ela até que tem algum charme nesta segunda parte. Talvez seja porque traiu o amado com Sanders? Não sei, mas deve ser.