O REI DOS REIS (1961)

O REI DOS REIS

Acabei de assistir ao grandioso filme O Rei dos Reis de Nicholas Ray, o mesmo que tinha dirigido Juventude Transviada.

JEFFREY HUNTER / JESUS

O filme tem muitas surpresas agradáveis. Uma delas é o ator principal, Jeffrey Hunter, que faz o papel de Jesus. Um ator competente, aparentemente desconhecido, fez o que ninguém havia feito antes, deu um rosto para Jesus. Por inumeráveis sintomas, até esse filme Jesus não tinha um rosto no cinema. Com medo da reação, principalmente da Igreja Católica, Jesus era retratado apenas por sombras até então.

Os fãs de ficção científica costumam lembrar-se dele como o capitão Christopher Pike, da USS Enterprise, no episódio piloto da telessérie Jornada nas Estrelas(1966-1969)

Jeffrey Hunter chegou no auge de sua fama em alguns dos grandes clássicos do cinema, muitos deles reverenciados por cinéfilos de todo mundo. The Searchers ("Rastros de ódio) clássico do Western dirigido pelo Mestre John Ford, em 1956, atuando lado de John Wayne, foi um deles.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeffrey_Hunter

Se você procurar a foto dele no Google, vão aparecer várias dele com o rosto lavado e as dele como Jesus, cabelo grande e barba, ou seja irreconhecível.

Eu assisti, creio eu, que todos os grandes épicos evangélicos antigos e só vim conhecer esse agora, devido a facilidade de baixar filmes na Internet. Nunca tinha visto esse filme em locadora alguma. E como vim a assisti-lo tardiamente, acredito que posso dizer, que esse é o melhor, até o momento, filme sobre Jesus e o Jesus, personagem, até aqui.

O DIRETOR NICHOLAS RAY E A HISTÓRIA DO FILME

Havia feito Juventude Transviada e depois disso não acertava mais papel algum. Na época da criação de Rei dos Reis, ele já era conhecido como um diretor problema. Fizera antes de o Rei, 5 filmes com resultados fracos na bilheteria. Ai apareceu Samuel Bronston.

Em 1961, o produtor Samuel Bronston, russo de nascimento e americano de criação, resolveu entrar na jogada. Ele foi o primeiro a perceber que, apesar do enorme apelo do público pelos épicos religiosos, desde 1927, quando Cecil B. DeMille (sempre ele) lançara o clássico mudo Rei dos Reis, nenhum filme americano mostrara o rosto de Jesus Cristo na tela. Bronston foi prático: a hora de refilmar Rei dos Reis havia chegado.

A primeira preocupação de Ray e do roteirista Philip Yordan (ambos repetindo a parceria de Johnny Guitar) foi contextualizar a pessoa de Jesus dentro do cenário político da época. Assim, ao contrário das convenções da época, Rei dos Reis inicia sua narrativa 63 anos antes do nascimento de Jesus. Por meio de um prólogo, narrado de forma seca e jornalística por Orson Welles, vemos a tomada da Judéia pelo exército romano do General Pompeu e a nomeação do Rei Herodes como uma espécie de interventor local. Inicia-se a perseguição ao povo judeu, que resiste com a crença de que a salvação está na vinda do Messias.

Os anos passam. O casal José e Maria se desloca de Nazaré, na Galiléia, para Belém, na Judéia. Lá nasce Jesus. Acompanhamos a visita dos três reis Magos (Baltazar, Melchior e Gaspar) ao estábulo em que a criança dorme. Os profetas avisam ao Rei Herodes que, de acordo com as escrituras, o Messias teria nascido em Belém. Herodes decide matar todos os recém-nascidos naquela cidade. No entanto, o menino Jesus já tinha deixado a cidade em direção ao Egito, onde passaria boa parte da sua infância. O tempo passa e os conflitos entre judeus e romanos se intensificam. De um lado, Barrabás lidera uma espécie de grupo guerrilheiro cujo objetivo é tomar o poder por meio da força. De outro, às margens do Rio Jordão, João Batista profetiza a vinda do Messias. Enquanto isso, no alto clero, Roma envia à Judéia o General Pilatus enquanto que Herodes Antipas mata o Rei Herodes, seu pai, e assume o poder.

O início de Rei dos Reis se dedica exclusivamente à apresentação desta ambientação. Com isso, o filme ganha pontos num quesito geralmente negligenciado pelas outras obras do gênero: o bom desenvolvimento dos personagens. Antes mesmo da entrada de Jesus na trama – o que só vai ocorrer aos 34 minutos de projeção – o público tem uma noção bastante adequada da motivação de cada um deles e das intrigas que ocorrem dentro e fora dos palácios. Ainda que a história e o destino dos personagens seja por demais conhecido, do ponto de vista do interesse da platéia esse prólogo faz toda da diferença.

Ao longo de Reis dos Reis, Jesus será visto como um elemento a mais dentro deste conflito entre romanos e judeus. Ele representa uma ameaça aos donos do poder, tanto quanto Barrabás. No fundo, ambos carregam a mesma proposta, só que a veiculam de forma diferente. O primeiro, pela palavra; o segundo, pelas armas. No entanto, os romanos sabem que o convencimento e a persuasão de Jesus parecem ser muito mais devastadoras. Não é à toa, portanto, que, ao final, eles não se importam muito em soltar Barrabás em troca da prisão de Jesus. Nesse sentido, Rei dos Reis se aproxima muito mais de um filme político do que religioso.

Do ponto de vista cinematográfico, Rei dos Reis tem vários achados visuais. Como de costume, Nicholas Ray se mostra um mestre no uso do cinemascope. A tela larga lhe dá condições de dispor seus atores dentro do quadro de uma forma que funciona tanto plástica quanto dramaticamente. Em várias passagens, o diretor filma determinada personagem em primeiro plano enquanto transmite outras informações no plano do fundo, ambos em foco. Veja, por exemplo, a bela cena em que o Rei Herodes Antipas acata o pedido que lhe foi feito por Salomé, sua enteada: num único plano, Ray enquadra o rosto do rei – em primeiro plano – e o corpo do guarda – em segundo – que aguarda a autorização para o cumprimento da ordem. Outro belo momento é a morte do Rei Herodes, que se inicia com o personagem tentando se agarrar nos véus brancos e se encerra com a câmera situada acima do trono, no qual já se vê a figura do seu filho.

As sequências do calvário e da crucificação são discretas e curtas, mas Ray dá um toque de originalidade ao posicionar suas lentes acima da cruz quando esta é erguida. Outro aspecto que difere Reis dos Reis dos demais filmes sobre a história de Jesus é que algumas passagens famosas dos Evangelhos não são encenadas, mas apenas mencionadas. Incluem-se aí o milagre da multiplicação dos pães, o caminhar de Jesus sobre as águas, a ressurreição de Lázaro e a decisão de Pilatus de lavar as mãos. A melhor cena do filme permanece sendo o Sermão da Montanha, transformada por Ray numa espécie de comício político, um debate a céu aberto entre Jesus (que surge de vermelho) e seus devotos.

http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1660

A trilha sonora de Rei dos Reis toca até hoje em alguns momentos; criação de Miklós Rózsa.

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Como já foi dito muito, pelo critico do Cineplayer (veja o link acima), eu quero falar um pouquinho sobre a minha impressão como um simples cinéfilo e cristão praticante.

Eu não entendo muito de cinema, mas sei quando um filme me impressiona. Esse filme O Rei dos Reis me deixa entrever duas coisas, uma como alguém que gosta de filmes e outra como cristão.

A primeira é que o filme é sensacional – como filme.

E a segunda é que ele não se presta muito como devocional. Historicamente sim e muito, mas devocionalmente não. Outros filmes cristão conseguiram me arrancar lágrimas e me levaram a abrir a minha Biblia e examinar aquela ou outra passagem, esse não.

O filme é um marco como cinema, é a primeira vez que Jesus tem um rosto e um belo rosto. Esse Jesus retratado, ou essa história é a mais consistente de todas as que já assisti. O seu enredo politizado nos leva a pensar seriamente como era à época e me fez rever o papel de Barrabas junto a Jesus e a Israel. Sem falar em algumas tomadas intimistas quando a tela se abre para um ator em primeiro plano e outra coisa ocorre mais além. São várias essas cenas espetaculares, mas pra mim a que mais me chamou a atenção, dói a que Maria, que tinha pedido para Jesus consertar uma cadeira tem a revelação de que ele nunca a consertaria, pois ele iria para Jerusalém e não voltaria nunca mais. Maria para, pensa e diz em primeiro plano que aquela cadeira nunca seria consertada, ao fundo o rosto de Jesus se contorce, por entender que Maria profetizava.

Sobre o calvário, chama ainda a atenção que uma câmera foi colocada acima da Cruz de Cristo, quando a vemos sendo levantada.

Eu adorei, a maneira de contar a história e isso achei imbatível. O diretor não se ateve ponto por ponto na Bíblia, mas continuou sendo bíblico, a todo o tempo, diga-se, é um filme religioso e muito bonito. Mas esse é um problema, pois ele é muito bonito, mas pouco devocional, ele pouco nos converte. O filme do Mel Gibson A Paixão de Cristo é um filme crente, cristão, feita por um crente, um cristão fervoroso. A primeira cena de A Paixão, onde Jesus está no Getsemani já define o filme. É pra chorar, é para coover, é para se converter. O Rei dos Reis é politicamente histórico e deve ser passado em nossas igrejas, para que aprendamos um pouco mais de história. De qualquer maneira esse e A paixão, não conseguiram ainda ultrapassar A Maior História de Todos os Tempos, que é talvez o filme mais conhecido de Jesus e até aqui o melhor devocionalmente.

Mas eu adorei a maneira de contar a história, sem se ater literalmente a cada virgula da Biblia. O diretor contextualizou e mudou algumas falas e isso ficou muito bom, creio que até se aproximando mais da maneira real como aconteceu. O mais claro disso no filme é a cena d’O Sermão da Montanha. Onde Jesus anda no meio do povo, enquanto esse mesmo povo lhe pergunta sobre o Reino. Cena absolutamente soberba e extremamente bem dirigida. Imperdivel!

O filme é obrigatório de diversas maneiras. Uma delas é que o filme é um épico de 1961. Deve ser visto então como cinema. A maneira de narrar, as tomadas de efeito em primeiro e segundo planos são aulas de cinema. A narração sem pressa, onde Jesus só aparece no filme depois de trinta minutos, quando praticamente todo o cenário está muito bem delineado para nós, é outra aula de cinema, à parte. A maneira antiga de narrar um filme é algo que gosto muito. O narrador era Orson Welles que narrou como um fato jornalístico. Há ainda um jogo de sombras, como quando Jesus orou por um aleijado e quando João Batista chorou, reminiscências do cinema mudo.

O filme é obrigatório para os cristãos, pois é o primeiro filme onde um rosto de Jesus aparece. A história politizada é muito bem contada e nos dão a mais pura impressão de como era na época. E nisso ficamos gratos de que não tenha sido um cristão a fazer o filme, pois poderia se perder em espiritualizações que não nos deixariam ver com total clareza os fatos. O que culpam Mel Gibson de ter feito no seu filme, apesar de que eu não concorde.

Algumas cenas foram pouco trabalhadas, mas o que mostrou-se foi muito bem feito. Como o breve julgamento e a breve cena da cruz.

Pra mim o filme pecou só aqui. Não em que não mostrou nada sobre a cruz, mas é que eles não entenderam que a cruz é o maior evento da história humana e da eternidade. Jesus Cristo veio a esse mundo para morrer a morte de Cruz em nosso lugar, mesmo sendo ele totalmente inocente. A Cruz é a sua morte sacrificial, dada por toda a humanidade. A Eternidade de Deus foi dividida em antes da Cruz e depois da Cruz. A Eternidade sem fim tem uma divisão, que é a Cruz. Pois nós cristão entendemos que esse mundo é apenas a sombra da realidade maior, que está inserida na Eternidade de Deus. E a Cruz é a grande divisora dessa Eternidade – e ao que sabemos a única divisória. Faltou no filme mais sobre a Cruz e mais sobre o seu julgamento. Faltaram lágrimas, emoção, coração.

Pra mim, me parece, que o melhor filme sobre Jesus feito até aqui, não tem alma. Não o desmerecemos de maneira absolutamente alguma, mas o que falta nesse sobra exacerbamente em A Paixão de Cristo, do Mel Gibson.

O filme é ainda assim um marco cinematográfico e espiritual, ele abriu outras portas.

De qualquer maneira, sem duvidas

...Esse, eu recomendo!

By

Paulo Sergio Larios

(me procure como Paulo Sergio Larios, ou pslarios no Youtube, que você vai encontrar alguma coisa minha, um abraço!)

pslarios
Enviado por pslarios em 07/11/2012
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