olham só

Olham só

Olham só

Os calcanhares despedaçados

Destes angolanos matumburizados

Velhotas, velhotes espezinhados

No uivar da aurora maltratada

Olham só o menino sonhador

Que fez do seu sonho ousado

O lugar do seu enterro acabado

Olham só

O menino que veio da Europa doutorado

Embrulhado e desempregado

No meio de mosquitos desamparados

Olham só, a mamã zungueira só

Neste solo com sol

Onde vagabundos em prol

De uma Angola jovial

São deitados e esfarrapados

Olham só

Esta Angola a rejeitar

Os filhos que viu pastar

No seio de seu ar

Que queria odiar até matar

Olham só, este desgrenhado sucumbido

Que não tem esperança, asas

Só dor para dar…

Olham só

Para isto que dor

Mamãs sem amor

Deitadoras de filhos feitos com suor

Olham só este povo inocente

Que procura ir ao poente

Sem horizonte nem transporte

Olham só

Olham só este povo ambulante

Que anda pé ante pé

Procurando cãoité e cabrité

Olham só o poeta rejeitado em sua pátria

Poeta que clama

Poeta que ora

Poeta que exterioriza

O que o povo chora

Olham só o papá trabalhador

Que nunca viu fruto do seu suor

Porque trabalha para o relaxador

Que o maltrata e o da dor

Olham só a este astuto prometedor

Que julga ser o pastor

Então é o fedor deste suor matador

Olham só a esta mãe

Que da luz sem esperança

De ver os seus filhos magistrados

Olham só esta angolanidade

Onde os fracos

São submetidos a barbaridade

Olham só ao celibatário

Que viu perder mãe e pai

Num triz solitário

Olham só ao amarfanhado

Deturpado com lamúrias

Torturado e ensanguentado

Olham só a arrogância do catedrático

Que murmura sobre os andaimes dos moribundos

Olham só as jóias dispersas

No vaguear das ondas sigilosas

Da praia Morena

Olham só catástrofes abertas

Onde a mulher descartada

E vendida e comprada á zimbo

Olham só o miar deste silêncio

Onde longos discursos

São enfatizadores desta pátria escura

Olham só vidas artificiais

Onde a mãe dá luz sem dor

Onde o homem nasce num laboratório

Olham só a humanizarem o criador

A fazerem dele culpado

De suas investigações erradas

Olham só ao ateísmo supremo

As doenças inesperadas

Ao ódio mútuo

Olham só ao escravo do prazer

Que acaba o seu futuro em dois minutos

Fernando katchingona
Enviado por Fernando katchingona em 25/04/2012
Código do texto: T3632369