Afundou de novo (publicado originalmente em 17/4/2012)
Na fila de entrada do cinema, a maioria das pessoas não tinha visto ‘Titanic’ na telona: ou era em DVD (nem VHS mais) ou na TV. Por isto, também por outras razoes, que rever a história outrora melada, sem sal ou desprovida de emoção, foi legal. É, legal. Em 3D. Isto se deu 14 atrás. Eu tinha 16 anos. Para comprar ingresso, precisei pedir à minha prima que o fizesse uma ou duas semanas antes, pois tamanhas eram as lotações das salas. A rede Cinemark havia sido inaugurada há poucos meses em São José dos Campos. Todo mundo queria saber como era apreciar o bom cinema. As 3 horas e 15 min. de duração de ‘Titanic’ passaram voando. Agora, 14 anos depois, seriam as mesmas sensações?
Foram. Aliás, alguns sentimentos se reviraram. Ou se revoltaram. Por exemplo: no 3D achei o filme bom. Relembrar Kate Winslet jovenzinha, com seus pouco mais de 20 anos, foi deslumbrante. E o que dizer de Leonardo DiCaprio imberbe? Antes das incursões com Martin Scorsese, L. DiCaprio havia feito ‘Romeu + Julieta’ (1996), entre outras coisas menos favorecidas. Já Kate estava em seu 6º trabalho em longa-metragem. Mas, às 22 primaveras, demonstrava maturidade, segurança e graça.
James Cameron, o diretor, inovou mais uma vez no 3D, como fez em ‘Avatar’. Em ‘Titanic’ ele simplesmente capturou cada frame. Isto quer dizer que Cameron destrinchou cada imagem da fita. Sim, você leu certo: cada imagem. Foram mais de 30 mil frames que este maluco transformou em 3D para que a gente, o público, se deleitasse nos ecrãs. Como bem disse a crítica da revista ‘Veja’, Isabela Boscov, o 3D de ‘Titanic’ não é de inundar a sala com imagem que sai da tela. É o da profundidade. Tem as figuras límpidas e som remasterizado. Tudo se encaixou perfeitamente novamente. Que bom.
Até o roteiro pouco crível parece ter se vigorizado. Mais um ponto positivo é que todos seus defeitos não morreram. Percebemos DiCaprio cru, sem o valor ser reconhecido. Kathe Bates o segura bem nas cenas em que fazem juntos. Em determinados instantes, a própria Kate Winslet cumpre este papel de sustentar o futuro galã. Logo após a estreia de ‘Titanic’ no Brasil, em 16 de janeiro de 1998, falaram que a atriz era muita areia para o caminhãozinho dele, mesmo ele sendo um ano mais velho que ela. Na verdade, a aparência importava um tanto assim. O figurino ajudou DiCaprio neste caso.
Para quem não se lembra, o longa abocanhou 11 Oscars. Foi indicado a 14. Era a primeira vez desde 59 que um filme levava tantos troféus para a casa. Entretanto, a imensa maioria foi de prêmios técnicos. Dos três que perdeu, dois foram para as atrizes: Kate Winslet e Gloria Stuart, intérprete de Rose na fase idosa (como coadjuvante). Não que eu queira ainda pegar no pé, mas DiCaprio não teve a indicação. Depois, teria por outros papéis. Mas ‘Titanic’ definitivamente não foi o filme de sua vida.
Na sala do cinema, para retomarmos e finalizarmos, percebi as exclamações das pessoas. Os espantos a cada adversidade, as risadas nos momentos certos, os suspiros do romance que marcou a década de 90. Como notei, ‘Titanic’ funcionou. Tal como ‘O Exorcista’, reexibido nos cinemas em 98, 25 anos depois da estreia mundial. Também vi o filme de terror no mesmo 1998 e emocionei-me com aquela sensação, mesmo não vendo a obra dos anos 70. Mais produções poderiam ser reexibidas.
Então, fiz um exercício: rememorar a febre da fita. Em primeiro lugar, a música cantada por Celine Dion, ‘My Heart Will Go On’. Seu clipe devo ter visto 100 vezes. Na época, as teens amavam o gurizinho. Capas de caderno, os pôsteres, as cartas imensas, as entrevistas, enfim. Espécie de pai de Crepúsculo, Robert Pattinson. Ah sim, ia esquecendo. O navio Titanic afunda no fim e, infelizmente para as meninas trintonas de hoje, adolescentes do passado, o querido Jack Dawson morre no final.