Pro Chico (publicado originalmente em 27/3/2012)

Desde que Chico Anysio foi internado pela última vez, dia 30 de novembro, já sabia que ele não mais sairia do hospital. Então, todos os dias ao acordar, eu me aprontava para ligar a TV e ver no noticiário da manhã o anúncio da morte do humorista, que ocorreria pela madrugada. E mesmo esperando pelo falecimento, jamais estaria preparado. Aliás, nunca estive. E Chico decidiu ir embora em plena tarde de sexta-feira passada, pregando uma peça em mim, porque ele se foi numa tarde, e não numa madrugada.

O Chico Anysio que partiu foi muitos. Muito feliz foi a manchete do jornal fluminense ‘O Dia’: ‘Morreram Chico Anysio’. Humorista, redator, apresentador, ator, cantor, compositor, pintor, poeta, roteirista, pai, avô, tio, irmão, ídolo, vascaíno, enfim, tudo de bom que você que me lê hoje é capaz de imaginar. Mas quando eu era criança, dos 6, 7, 8 anos, Chico foi pra mim um monstro, o vampiro. No Chico Anysio Show, via-o junto de meus pais e sempre que Bento Carneiro, o Vampiro Brasileiro, surgia, eu sumia da sala aos prantos e ia pro corredor me esconder de medo. Não queria que ele me visse e me rogasse uma praga. No corredor, entretanto, não conseguia resistir à minha curiosidade e o espiava de relance, um olho só, e já chispava dali e só voltava quando outro personagem aparecia.

Mais tarde, com 10, 11, 12 anos, Chico foi meu professor particular. A Escolinha do Professor Raimundo preencheu, talvez, o humor e a descontração que eu não tinha na escola, com aqueles professores turrões prontos pra dar broncas e etc. Sentia-me colega do Samuel Blaustein, João Canabrava, seu Boneco, Sandoval Quaresma, Rolando Lero, dona Bela e de todos os demais. Mas as aulas quem dava era Chico, mestre em comandar aqueles medalhões cheios de qualidades e talentos extraordinários. Tal qual um maestro, Chico tinha uma batuta firme e não deixava a peteca cair no mundo dos comediantes-alunos.

Quando me tornei adolescente, de 14, 15, 16 anos, me afastei de Chico. E será que foi por isto que ele também ficou longe da TV? Casou-se com a Zélia Cardoso de Mello, morou um tempo nos EUA e, de volta ao Brasil, trouxe Chico Total, em 1996, um programa que lembrava Chico City e ainda tinha esquetes do próprio Chico, de cara limpa, no início do programa. Em 1999, com O Belo e as Feras, aí sim nem dei mais importância a ele. Esqueci de Chico um período, pecado que hoje, revendo tudo pela morte dele, me puno e não me desculpo comigo mesmo.

Daí ele, que tinha aparições esporádicas, hora ou outra vinha à TV me dar satisfações de sua ausência. Eu compreendia, mas não engolia. E por isto mesmo toda vez eu gravava no videocassete estas entrevistas, homenagens e especiais, pra poder rever no momento em que me desse na telha. Tudo dele eu queria, inclusive vê-lo pessoalmente. Consegui em 2008, em Taubaté. Não só o vi como o cumprimentei, peguei autógrafo e tirei fotografia. Apenas não consegui dizer o quanto ele representava na minha vida.

E nesta minha exata faixa etária, dos 23 até os 30 anos de hoje, Chico foi meu avô brincalhão, um Pantaleão das histórias de 1927. E ao ver estas notícias dele doente, internado, senti-me como que cuidando dele, de longe, como os netos fazem com seus avôs, com carinho.

Então, pra acabar, como dizem por aí que quando a pessoa morre, ela vai pro céu e vê tudo e todo mundo, tomara que Chico consiga ver esta minha homenagem, que nada é perto do símbolo que este amado mestre, como dizia Rolando Lero, foi pra mim. Sobretudo uma pessoa querida, amada e repleta de capacidades. Tchau Chico. Vou ser seu fã pra sempre. Sempre.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 27/03/2012
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