Reaprender ou reinventar? (publicado originalmente em 13/3/2012)
As histórias de terror no cinema, tal como os demais gêneros, têm fases. De tempo em tempo surgem os roteiros de vanguarda e combinados com a direção e o elenco certo, viram marcantes. Foi desta forma a extensa qualidade do expressionismo alemão, por exemplo. Em Hollywood isto se deu com os baratos e cults longas do Drácula, Frankstein e etc, dos anos 1930, 1940 e 1950.
Depois todos se assombraram com ‘O Exorcista’ (1973) e mais recentemente ‘O Sexto Sentido’ (1998) deu sua nova roupagem ao estilo. O grande entrave se dá exatamente em seguida a estes sucessos: as cópias chulas ou as continuações exageradas. Neste setor há inúmeros a serem citados: ‘O Exorcista 2: O Herege’ (1977), ‘O Exorcista 3’ (1990), ‘A Vila’ (2004), ‘Sinais’ (2002), ‘Corpo Fechado’ (2000), e isto sem as paródias e dentre elas quase nenhuma se salva. Querem ser engraçados e acabam se desperdiçando.
‘A Mulher de Preto’, que estreou 18 dias atrás, se enquadra como imitação barata. Os únicos destaques são fotografia e figurino. Na primeira, os ares da Inglaterra victoriana do começo do século 20 impuseram tons acinzentados e um preto-e-branco falsificado. O clima e as névoas pálidas fazem a fita ter qualidade neste sentido. Sobre o figurino era evidente que teria de ser esmerado para jamais cair em descrédito.
Pela época da trama, e faço aqui uma nota de louvor à direção de arte, as roupas não poderiam ser simplesmente jogadas ao léu. Cada personagem representa o medo, desconfiança, a agrura de ficar sem saber como será o futuro. E é só. O elenco cumpre o regulamento e talvez quem se saia melhor seja Daniel Radcliffe, agora ex-Harry Potter. A explicação é fácil: aos 22 anos, precisa logo se livrar do mágico teen, pois senão a sua carreira acaba. Ele se sobressai aos demais realmente.
Com direção do novato James Watkins e roteirizado por Jane Goldman (de ‘X-Men Primeira Classe’ –2011 e ‘Kick-Ass: Quebrando Tudo’ – 2010), ‘A Mulher Preto’ conta os mistérios que existem numa cidadezinha da Inglaterra. Arthur Kipps (Radcliffe) é recém-formado em Direito, viúvo e com um filho de 6 anos e tem a missão de organizar a documentação de uma mansão nesta cidadezinha. Ele não sabe, porém, das mortes de crianças que acontece ali desde que a moradora da casa onde ele trabalhará cometeu suicídio.
A partir daí, Kipps passa noites na mansão e tem visões apavorantes de uma mulher vestida de preto que ronda o lugar. Descobre-se que a moça tinha problemas mentais e o filho foi tirado dela pela irmã. Ela se mata, mas antes assassina o próprio rebento. E a cada vez que Kipps a vê no casarão, uma criança morre em circunstâncias macabras no vilarejo, fazendo com que o povoado o queira longe dali imediatamente, ou matá-lo, por saber da maldição da mulher de preto.
O roteiro deixa a desejar. Eu até sou atraído a histórias de terror acerca de temas fúnebres, e os caixões e imagens estranhas. Entretanto, o que ocorre em ‘A Mulher de Preto’ não foge do trivial: música estridente, sustos de um segundo, discussões tolas sobre espiritismo. Ao pretenderem tornar a figura uma espécie de ‘loira do banheiro’ ou ‘a moça de branco do cemitério’, deram um tiro n’água.
O desfecho para muitos surpreende. Senti que quiseram resolver o filme às pressas, apesar de o fim causar admiração pela rara ousadia. Destaco a participação de Ciarán Hinds e Janet McTeer no cast. Dão vida ao casal Daily, que teve o filho morto em uma das aparições da fantasma. Ambos estão em longas recém-indicados ao Oscar: Hinds fez ‘O Espião que Sabia Demais’; Janet dominou ‘Albert Nobbs’ e foi indicada a coadjuvante. Encontraram-se neste terror e cumpriram bem as suas tarefas.
Para concluir, pergunto: o cinema de horror precisa reaprender as técnicas ou reinventar-se?