Balanço pré-Oscar (publicado originalmente em 14/2/2012)
Hoje farei análises e especularei sobre obras que concorrerão ao Oscar, que acontece domingo, 26 de fevereiro, às 22h30 (horário de Brasília), e será exibido na íntegra pelo canal a cabo TNT e parcialmente pela Rede Globo.
Começo com ‘O Espião que Sabia Demais’. É uma trama densa. Entendimento difícil. Passa-se em 1973, na Guerra Fria. Narra o trabalho de George Smiley (Gary Oldman), espião aposentado que tem de voltar para o batente a fim de investigar o traidor dos EUA que por anos trabalhou ao governo da União Soviética. G. Oldman está praticamente perfeito no personagem. Seguiu à risca o roteiro. Não sorri, nem demonstra emoções. Ver os seus dentes ali é impossível. Concorre a ator e tem chances boas ganhar. Mas, repito: o longa é de tensão pura e uma piscada de olhos de meio segundo pode fazer você se confundir com nomes, dados, ações. Tem gente que o considera parado e sonolento. Lembra o noir, com fumaças de cigarro e o cinza na fotografia.
‘Um Gato em Paris’ concorre a melhor animação. Supera na qualidade e senso de humor os americanos ‘Um Gato de Botas’, ‘Rango’ e ‘Kung Fu Panda 2’. A produção, óbvio, é francesa. Conta-nos a história de um gatinho preto que leva uma vida dupla: de dia é o manhoso e doméstico felino de Zoé, a dona. À noite, é comparsa de um ladrão cujos movimentos são tão idênticos ou melhores que do gato. A rotina deles –Zoé e Nico, o gatuno– é abalada por um terceiro elemento: Victor, assassino do pai dela. É alternativa aos EUA. A Academia se rende: indicou também o ‘estrangeiro’ ‘Chico & Rita’, meu favorito. Animação a adultos e sensual.
Já ‘Cavalo de Guerra’ tem produção de Steven Spielberg e é um água-com-açúcar com a Primeira Guerra Mundial como pano de fundo. Centra-se no amor do menino com o seu cavalo. Como a família é pobre e deve aluguel, o pai, a contragosto do filho, vende o animal a soldados que combaterão no front. O equino passa por tudo quanto é sofrimento e resiste a tudo. O script derruba a fita na parte final. O desfecho é de uma cafonice atroz. Dos 9 indicados a melhor filme, é o mais ruinzinho, digamos assim. Todos os atores perdem em importância ao cavalo. Derrapa.
‘Os Homens que Não Amavam as Mulheres’ é o contrário. Os bons atores têm aos tantos. Para começar, Rooney Mara. Havia feito ‘A Rede Social’ e aqui aparece totalmente diferente. Dá vida a Lisbeth, hacker que trabalha como investigadora. Cheia de piercings, tatuagens, Mara dá show na tela e merecidamente recebeu indicação de coadjuvante. Na história, forja dossiê para acabar com Mikael Blomkvist (Daniel Craig), jornalista investigativo. Depois, torna-se parceira dele e desvenda um assassinato. ‘Os Descendentes’ me decepcionou um pouco, mas... vá lá.
‘Toda Forma de Amor’ e ‘O Homem que Mudou o Jogo’ têm a característica em comum: atores em momentos singulares. Christopher Plummer (que também está em ‘Os Homens...’) e Brad Pitt seguram as histórias, todavia de maneiras distintas. O primeiro revive o apogeu depois de muitos anos e o outro representa a expressão ‘é agora ou nunca’. As tramas têm homens que querem ser eles mesmos e tomam as atitudes severas e inusitadas para isto: revela ser gay perto dos 80 anos (Plummer) e dá todo o suor e esforço a um time de beisebol quase rebaixado (Pitt). Estão tecnicamente corretos nos sets. O fato de serem estrelas pese contra. E o octogenário tem Jonah Hill, de ‘O Homem que Mudou o Jogo’, como seu rival na disputa pela estatueta de 2012.