Descartável. Típico (publicado originalmente em 3/1/2012)

A época do fim de ano nos sobram os restos. Perdoem a redundância. É o tempo onde as crianças se divertem nas salas e as sujam, as salas, de pipoca, refrigerante e qualquer guloseima que as apeteça. Borbulham as fitas infantis, animações, e as produções toscas. As estreias delas, nos EUA, ocorrem no verão de lá, entre junho e agosto. Às vezes coincidem: vêm no Natal. Aqui chegam no nosso calorão, de dezembro a fevereiro, daí a conjunção com o tempo do Papai Noel.

‘Roubo nas Alturas’ é um filme descartável. Aliás, neste caso, há o ineditismo de minha parte. Foi a primeira vez que assisti, por completo, Eddie Murphy, o ator quiçá mais dilacerado e massacrado por este colunista. O resto eu vi aos quebrados, partes pequenas que me bastaram.

Dirigido por Brett Ratner – dos três ‘A Hora do Rush’ (1998, 2001, 2007), vejam o naipe do sujeito – o longa-metragem está recheado de desentendimentos, ameaças de boicote. O script foi escrito por um grupo de cinco profissionais e, por causa disto, talvez, a história tenha ficado à mercê de clichês, cenas de teor falso e emoções repetidas por atuações fracas. Um deles, apesar de desperdiçado, porém com talento, é Alan Alda, conhecido pela série de TV ‘M*A*S*H’, a dos anos 1970 e 1980. Aos 75 anos, rouba as cenas não só pelo seu 1.88m, mas também, e isto creio ter sido o mais complicado, por dar fôlego à trama pobre e desprovida de carisma e criatividade.

Protagonizada por Alda e Ben Stiller, outro ator que abomino, a história conta como um funcionário exemplar de um hotel de luxo (Stiller) experimenta a sensação de roubar o próprio local de trabalho para dar fundo de garantia aos demais empregados. Em resumo: Alda é Arthur Shaw, megaempresário repentinamente preso acusado de muitas fraudes. Investidor de gabarito e competente, tinha em mãos todo dinheiro dos trabalhadores e os afana. Disposto a vingar um a um dos prejudicados, Josh (Stiller) monta um plano mirabolante. Nele está Slide (E. Murphy), um ladrão de galinhas, metido a besta e que adora tudo o que tem de mais vulgar neste planeta. Diga-se de passagem, os cinco roteiristas capricharam nas falas deste personagem em especial.

Complementam o elenco Casey Affleck (o irmão daquele), Matthew Broderick e Stephen Henderson. Tem ainda a gracinha Téa Leoni, que trabalhou com Woody Allen em ‘Dirigindo no Escuro’ (2002) e foi Jane em ‘As Loucuras de Dick & Jane’ (2005), ao lado de Jim Carrey; como a agente policial. Como eu escrevi anteriormente, nada absurdamente mágico para a sétima arte.

Sobre a ameaça de boicote, trata-se de um caso polêmico que envolveu a rede Cinemark. A empresa quase não pôs o longa em cartaz, pois a Universal, produtora de ‘Roubo nas Alturas’, queria dar cópias em formato ‘video on demand’ – onde as pessoas assistem antes, se desejarem – a dois estados dos EUA. Depois de algumas discussões, o ‘video on demand’ foi cancelado.

Finalizo as palavras ratificando o desempenho efêmero da obra. Filme de verão, apenas.

Mais no www.recantodasletras.com.br/autores/rodrigoromero.