Um filme desbotado (publicado originalmente em 11/10/2011)
Tem momentos em que me pergunto para que serve o cinema. E invariavelmente esta questão me chega quando vejo histórias desastradas nos ecrãs. Para dizer a verdade, há muito a sétima arte locada nos EUA se consolidou como destruidora de esmero, qualidade e apuro. Estou chutando, mas antes de 10 fitas da terra do Tio Sam, três ou quatro prestavam, davam aquela sensação de dever cumprido ao assistir; hoje desta mesma dezena nenhum vale a pena, ou um, se tivermos sorte. O que me parece é que os longas são tão ou mais descartáveis como os demais produtos do nosso dia a dia: sapatos, bolsas, roupas, celulares e demais aparelhos eletroeletrônicos. Feitos para serem jogados no lixo, sem quaisquer lembranças boas ou ruins. Denomino estas obras como 'filmes de prateleira': irão à locadora e ficarão lá, estocados e cheios de poeiras até algum caridoso alugá-lo. Ou então pessoas sem gosto vão locá-los, pois produções como essas aí, por exemplo, 'Amizade Colorida' (2011), fazem seu sucesso efêmero, bem divertidinho, e ponto final.
Neste 'Amizade Colorida' Justin Timberlake, que se deu bem em 'A Rede Social' (2010), toma o posto de protagonista. Ao seu lado tem a beldade Mila Kunis, também destaque numa realização do ano passado, estupendo 'Cisne Negro', com Natalie Portman. Ela é Jamie, a agente de novos talentos, chamada de recrutadora nos EUA. É a responsável por colocar jovens capazes como Dylan (Timberlake). A moça o convence a deixar São Francisco e ir trabalhar em Nova Iorque, numa revista de bobeiras. Mas a dupla está saindo de relacionamentos chatos, não quer envolvimentos tão cedo. Assim, sabendo que têm atração mútua, são lindos e liberais, decidem usar do expediente dos século 21: o sexo casual, sem compromissos. No começo conseguem, porém – tchan, tchan, tchan, tchan! – a atração se transforma em paixão e depois em amor. Que belezinha. Quantos roteiros já não fizeram o mesmo? O recente 'Sexo Sem Compromisso', com a Natalie Portman, tratava também do assunto, de um lado alternativo. 'Amizade Colorida' é, bem, …
Possui momentos legais, para usar vocabulário infantil, de tensão sexual, com cenas quentes que a freira pode ver. O longa tem a participação de Woody Harrelson (de 'O Mensageiro') como um jornalista gay, Patricia Clarkson (de 'Tudo Pode Dar Certo' – 2009) na pele da mãe porralouca de Jamie, e Richard Jenkins, dando vida ao pai esquecido de Dylan. O diretor é Will Gluck. Ele está em seu terceiro trabalho e dá derrapadas no roteiro, escrito com muitos parceiros. E quase no fim de 'Amizade Colorida', Gluck joga uma pista falsa que o público tende a cair, porém seria demais o longa ter certas coincidências. O que nós podemos aproveitar de 'Amizade Colorida' é o par de olhos amendoados e grandes de Mila. Se ela estava estonteante em 'Cisne Negro', em 2011 deslumbra diante das câmeras. Não existe sensualidade como a de Jamie, protótipo de mulher dos nossos tempos: insegura, romântica, independente, mandona e com muita esperança em esbarrar no amor de sua vida. Consegue, porque o longa é desbotado ao invés de colorido.
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