Sem forçar o cérebro (publicado originalmente em 4/10/2011)

Os caminhos pelos quais passam os cineastas, tanto atores como diretores e produtores, são muito diferentes das dos profissionais de televisão e do teatro. A sétima arte é singular. Quaisquer outros meios de comunicação o são e, por isto mesmo, tem particularidades. Tome-se exemplo de artistas consagrados como Tom Hanks e Julia Roberts. Eles ganharam Oscars, são multimilionários e gostam de fazer filmes.

Porém ultimamente, e assim tantos outros fazem o mesmo, se dedicam aos tipos de histórias que me desagradam. São roteiros produzidos geralmente pelos próprios atores. Acrescentam pouquíssimo ou nada ao público e têm como única finalidade de entreter e tentar esvaziar a rara consciência que ainda nos resta. Este tipo de obra nada tem a ver com escatologias e besteiras de Eddie Murphy, Jackie Chan, Leslie Nielsen, Steven Siegel e a companhia limitada. Estes são zero à esquerda. Ao me referir a longas como o recém-lançado ‘Larry Crowne: O Amor Está de Volta’, trago à baila fita com qualidade de elenco, porém fraca de conteúdo ou até mesmo desprovida de uma certa sinceridade profissional. Triste, mas verdadeiro.

Em ‘Larry Crowne’ (cujo subtítulo é horrível), Hanks é protagonista, o diretor, um dos produtores e um dos roteiristas (ao lado de Nia Vardalos, diretora e roteirista de ‘Casamento Grego’, 2002, e de ‘Eu Odeio o Dia dos Namorados’, 2009). O script aborda a recente crise econômica mundial, nestes dias em que os EUA estão com as quatro patas no chão lambendo o leite derramado por países emergentes, quase dando calote em todo o planeta. Nada melhor do que problemas envolvendo dinheiro, tão comuns em nós, pobres sulamericanos, na telona – os estadunidenses necessitam se especializar no tema. Estão meio crus.

Larry Crowne (Hanks) é o herói. Funcionário há décadas em uma loja – ganhou inúmeras vezes o prêmio de destaque do mês –, é demitido por não ter curso superior. Endividado, tem de recomeçar a vida do zero. Com mais de 50 anos, a situação é complicada. Envia currículos, sem sucesso. Renegocia com o banco, se matricula na faculdade. Entra nos cursos de Economia, com o professor Matsutani (o impagável e experiente George Takei) e Oratória, com a professora Mercedes Tainot (Julia), amarga, mal humorada.

Pode-se afirmar a boa colocação da dupla em cena. Eles combinam, têm química. Não há como se negar o óbvio. Bons atores que parecem desperdiçados. Fazem graça que iniciantes poderiam fazer como a filmagem de início de carreira. A película possui momentos hilários, mas peca por exagerá-los. Cansa. Sentimos veracidade no argumento (o curso de Oratória é daquele jeito – já frequentei e dou testemunho), mas pense: para quem rodou ‘Filadélfia’ (93), ‘Forrest Gump’ (94) e ‘O Resgate do Soldado Ryan’ (98), ou ‘Erin Broncowith’ (99) e ‘Closer’ (04), ‘Larry Crowne’ é piada. Filme bobo é igual a perda de tempo.

Evidentemente, há participações relevantes. Taraji P. Henson (‘O Curioso Caso de Benjamin Button’) faz bem o papel de B’Ella, vizinha do protagonista, e Gugu Mbatha-Raw, linda atriz de séries de TV, é uma grata surpresa. Ela é Talia, amiga liberal de Crowne. Hanks, que antes dirigira, em 1996, ‘The Wonders: O Sonho não Acabou’, pôs a mão experiente de realizador. Todo drama da fita, desusado, é ele quem dita. Aos 55, T. Hanks está em forma e poderia muito bem se dedicar a trabalhos mais sérios. Julia, 44, idem. É só ver os frutos que nos dão Clint Eastwood e George Clooney com os seus filmes engajados.

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Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 04/10/2011
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