Trio Ternura (publicado originalmente em 20 e 27/9/2011)

Já escrevi sobre filmes cuja mocinha tinha como intérprete a Audrey Hepburn, talvez a atriz mais doce da história do cinema em todos os sentidos: elegância, atuação, emoção e, sobretudo e não menos, a beleza. Roteiros mais conhecidos com ela no elenco, como 'Bonequinha de Luxo' (1961), 'A Princesa e o Plebeu' (1953), 'Sabrina' (54) e 'Minha Querida Dama' (64), fizeram dela um ícone da sétima arte. Porém, Audrey tem outros títulos tão ou mais marcantes, às vezes largados na memória dos cinéfilos ou mesmo os fãs da atriz. Um deles é 'Charada', produção de 1963 que englobou comédia, drama e aventura em um mesmo trabalho. Com trilha sonora muito bem feita, realizada pelo mago Henri Mancini, a fita conquista e admira pela ousadia e carisma. Além de Audrey, 'Charada' é estrelada por Cary Grant e Walter Matthau.

O longa narra a incrível história de Regina Lambert (Audrey). Recém viúva, a americana vai para Paria a passeio tentar diminuir a tristeza pela perda e, simultaneamente, quer entender qual era o tipo de vida do marido. Nesse ínterim, passa a ser procurada por supostos inimigos do morto. Eles querem US$ 250 mil e acreditam estar com a dama as notas. Sem entender bulhufas, Regina procura auxílio e o tem de Peter Joshua (Grant) e Bartholemew (Matthau). Mas como confiar em ambos e deixar a desconfiança para fora? E se a dupla está também em busca das verdinhas e a usa em favor de cada um? Como ser poliana e crer neles? À medida que os minutos de 'Charada' passam, todos ficam confusos: o público e personagens.

A película seria a antepenúltima da carreira de 34 anos de Cary Grant. As duas derradeiras foram 'Papai Ganso' (1964) e 'Devagar, Não Corra' (1966). O ator, que morreria somente duas décadas depois da última produção, recusou a prosseguir trabalhando, pois acreditava estar velho demais a ser protagonista e os seus fãs se irritariam de vê-lo dando vida a personagens secundários. Preferiu o teatro. Bobagem. Mais tarde saberíamos que o ator era ‘neurótico’. Avisou esposa e filhos sobre o que poderiam falar dele depois do falecimento. C. Grant por pouco não morreu no palco. Aos 82, teve hemorragia cerebral fulminante ao sair do teatro de onde ensaiava uma peça. ‘Os mortos não podem se defender’, diria ele à companheira.

Neste 'Charada' se percebe certa idade a Grant, que contava 59 anos ali. Correr, pular e agachar-se estava mais difícil. No filme o ator tem de fazer essa e outras manobras corporais. Já para Audrey, aos 34, nada demais. Esbanjava lindeza, pureza naqueles olhares ingênuos, fundos. Os labirintos viram labirintos de ternura com o trio. Ficamos ao lado de Regina. Acreditamos nela e não nos marmanjões. Matthau faz o delegado sincero até certa parte. É o vilão na trajetória de seres cômicos da lista do ator, principalmente quando tinha o parceiro Jack Lemmon. Três anos depois, Matthau ganhou Oscar de coadjuvante por 'Uma Loira por Um Milhão'. Enfim, um trio de ícones com um diretor brilhante nos sets. Uma história esperta.

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Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 27/09/2011
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