O legado do já clássico 'O Rei Leão' (publicado originalmente em 13/9/2011)
Em geral, o grande filme causa arrepio, emoção, empolgação, impacto. Marca geração. Gerações. No caso das animações, o propósito vai além. Na maioria das vezes, o espectador assiste ao desenho em longa-metragem no cinema aos oito, dez anos. Tempos mais tarde tem a oportunidade de revê-lo, seja no DVD, a antiga VHS etc. É aí onde voltam sentimentos da infância. A pessoa se lembra qual a roupa usava no dia, a cena na qual vibrou, chorou e ficou tenso. Resumindo: é gostoso demais, no nosso íntimo, gritar ‘Shazan!’ e, de repente, constatar as portas do passado abertas novamente. Foi o que aconteceu comigo há alguns dias, em dose mais alta. Após de ver ‘O Rei Leão’ no extinto Cine Rosário em 1994, quando tinha 12 anos, revi a película semana passada outra vez no cinema, em formato 3D. Uma sensação indescritível.
Quase todos vocês acompanharam a história da animação. Se não seguiram, pelo menos ouviram falar. Lançado 17 anos atrás, foi a 32ª desenho em longa-metragem da Disney. Porém, ‘O Rei Leão’ tem o marco histórico de ser o primeiro a ser rodado segundo um roteiro original, sem ser baseado em contos de fada ou livros, como o estúdio fez em ‘Cinderela’ (1950), ‘Pinóquio’ (1940), ‘Dumbo’ (1941) e por aí vai. A fábula da dinastia do rei dos animais por meio do pai e do filho– Mufasa e Simba– encantou milhões de pessoas mundo afora. Na verdade, a produção demorou a ser finalizada. Há duas décadas, a tecnologia e a informática, principalmente em relação a efeitos especiais e desenhos, engatinhava. Os trabalhos iniciais foram feitos em 1990, quando George Scriber (dos ‘Smurfs’, dos anos 80) era o diretor.
Durou pouco. Logo Roger Allers e Rob Minkof, estreantes no setor, ficaram no lugar de Scriber. Em aproximadamente três anos totalizaram a obra. O resultado foi além do surpreendente. Qualidade bem apurada, trilha sonora e canções originais primorosas e capitaneadas por um time de primeira linha, e sua narração comovente, com sequências memoráveis, fizeram de ‘O Rei Leão’ um clássico, mesmo somente um ou dois anos em seguida à estreia. Colocou-se, e com razão, em igual patamar de cults como ‘Bambi’ (1942), ‘Alice no País das Maravilhas’ (1951), ‘A Dama e o Vagabundo’ (1955) e ‘A Bela Adormecida’ (1959), por exemplo. Situação similar ocorreu com contemporâneos de ‘O Rei Leão’, como ‘A Pequena Sereia’ (89), ‘A Bela e a Fera’ (91) e ‘Alladin’ (92), ainda que com esse trio tenha sido em escala menor.
Quem não se recorda da imponência de Mufasa no alto do penhasco rugindo e sendo reverenciado pelos ‘súditos’ girafa, elefante, cervo etc? Ou então do instante da morte dele, quando o irmão, o perverso Scar, o derruba do mesmo penhasco? Isso sem falar dos legados divertidos que a fita deixou, como Timão e Pumba, dupla formada por uma suricata e um javali (tiveram inclusive desenho próprio anos depois) e, como escrevi, as canções. Nada menos que Hans Zimmer, Elton John e Lebo Morake foram responsáveis pela parte. E músicas como ‘Você Pode Sentir o Amor Hoje à Noite’, ‘Circo da Vida’ e, principalmente, ‘Hakuna Matata’, ficaram na mente. Prova disto foi a indicação do trio para concorrer ao Oscar de canção original, com o troféu ficando com ‘Você Pode...’. ‘O Rei Leão’ também levou o prêmio de trilha sonora.
Citei tantos longas da Disney e o leitor pode questionar: e ‘Branca de Neve e os Sete Anões’ (37), a obra-prima? Pois é. Para mim, poder ter visto ‘O Rei Leão’ no cinema, por duas vezes, deva equivaler, imagino, àquela pessoa que assistiu a ‘Branca de Neve...’ nos ecrãs. Uma linda comoção incomensurável.
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