Entre bananas e balas (publicado originalmente em 30/8/2011)
Mais ou menos como fez George Lucas na série 'Guerra nas Estrelas', quando contou, no sentido inverso, a história da saga de Luke Skywalker e Darth Vader – a parte final foi filmada na década de 70 e a do início veio nos anos 2000 – a trajetória de 'O Planeta dos Macacos' veio de forma similar. Primeiro chegaram as aventuras da macacada consagrada, sem a explicação de como se transformaram em seres inteligentes. Em 1968, o diretor Franklin Schaffner, de 'Patton: Rebelde ou Herói' (1970), rodou a trama com Charlton Heston encabeçando o elenco na pele do coronel George Taylor. Logo depois, nos anos seguintes, mais outros quatro longas acompanharam tal e qual as aventuras dos símios e sua relação com todos humanos. Mas aí já com menos badalação, menos brilho e muita pouca repercussão fora dos EUA.
Assim, em 2011, o diretor Rupert Wyatt recebeu um presente inesperado. Os produtores queriam rever o antigo sucesso. Ofereceram a história a três realizadores: Robert Rodriguez, de 'Machete' (2010), Kathryn Bigelow, de 'Guerra ao Terror' (2009) e Thomas Alfredson, de 'Deixe ela Entrar' (2008). E o trio recusou. Então, chamaram R. Wyatt e ele aceitou. James Franco ('127 Horas' – 10) e Freida Pinto ('Quem Quer Ser um Milionário' – 2008) são os protagonistas deste roteiro que exibe tudo o que ocorreu para a mudança de neurônios nos primatas. Usando mesma tecnologia de 'Avatar' (2009), 'Planeta dos Macacos: A Origem', estreado dez dias atrás aqui no Brasil, é, como revolução no cinema, com efeitos especiais que chegam a impressionar muito... Contudo, é pobre em atuações do elenco, digamos assim, dos humanos...
Na história, Will Rondman (James Franco) é um cientista que desenvolve um medicamento para combater o mal de Alzheimer. O pai, Charles (John Lithgow) tem a doença e por isso é esta preocupação de Will. O laboratório faz estes testes em macacos e uma determinada substância faz com que os bichos desenvolvam uma esperteza fora do comum. E é em César, o macaco de estimação de Will (as feições do animal são do ator Andy Serkis, que também incorporou Smeagol, de 'O Senhor dos Anéis', lembra?), que as características são as mais extravagantes. De olho na solução para aquele problema do pai, o cientista começa a testar o remédio nele, em Charles. As primeiras avaliações são sucesso. Porém, quando César é levado à gaiola, por agredir o vizinho de Will Rondman a situação começa a mudar. Bem perigosamente.
Sempre na relação bicho-homem o espectador tende a torcer pelos animais. É assim nos desenhos animados e longas-metragens. Exemplos não faltam. Desde 'Rio' (2011), 'Ratatouille' (2008), chegando a 'Avatar' (2009), quando nós vibramos a cada murro dos azuis nos humanos. Em 'Planeta dos Macacos: A Origem' não é diferente. A partir do instante em que os bichos se organizam em sociedade, tendo César o seu líder, com a finalidade de escapar da 'prisão' e ir à terra das sequóias, o público quer a vitória deles, de César e seu bando. Sentimos dó, damos risadas, temos a visão de defesa deles, enfim, estamos na pele dos macacos, entre as bananas oferecidas por Will e as balas dos policiais para tentar acabar com a revolução. Em outras épocas, esta fita seria vista como crítica ao capitalismo e uma ode ao socialismo, Guerra Fria e etc. Estamos bem longe disto. Atualmente, scripts como esse apenas tem intenção de divertir. Mais nada.
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