Vamos valorizar a produção! (publicado originalmente em 23/8/2011)

Parece ingênuo, mas a história onde estão quatro amigos de 11 e 12 anos fazendo filme em uma cidade pequena do interior, mexeu comigo. Os companheiros são Joe (Joel Courtney), que perdeu a mãe recentemente, Charles (Riley Griffiths), o diretor, Martin (Gabriel Basso), o galã vomitador, e Cary (Ryan Lee), o responsável pelos efeitos especiais explosivos. Juntam-se ao quarteto Alice (Elle Fanning, irmã de Dakota, de 'A Guerra dos Mundos' – 2006), a menininha bonitinha da turma, paquerada por Joe e Charles.

Dirigido por J. J. Abrams ('Missão Impossível III' – 06) e produzido por Steven Spielberg, 'Super 8' (2011), posso crer, é o sonho concretizado do menino Steven. Com toda a certeza o diretor de 'E.T.: O Extraterrestre' (1982) foi o rapazote de ideias mirabolantes, criativas, como, talvez, o personagem Charles ou Cary, das explosões. É a ode ao cinema da maneira spielberguiana de ver a sétima arte: com suspense, os seres de outro mundo e muito, mas muito conteúdo sobrenatural presente. E ele consegue realizar tudo.

De Abrams se esperou o óbvio. Com Spielberg na retaguarda, o comandante até cedeu às preces do parceiro famoso, porém sem deixar a mão dele próprio, Abrams, sobressair. São pontos afastados nesta trama, mas nós os vemos. Exemplo: as relações de Alice com o pai, o problemático Louis (Ron Eldard), e de Joe também com o pai, o delegado da cidadezinha Lilian, Jackson (Kyle Chandler). Aliás, tanto Lilian como nome do posto de gasolina, Kelvin, foram dados em homenagem aos avós de Abrams.

Não havia ainda ligado tal e qual, mas Elle Fanning, ao contrário do que eu pensava, não é assim tão novata em atuação. A atriz fez – quem se lembra? –a pequena Lucy 'in the sky with diamonds' do belo 'Uma Lição de Amor' (2001), quando contava só três anos de idade. Ainda esteve em 'A Creche do Papai' (2003) e 'O Curioso Caso de Benjamin Button' (2008), dando vida a Daisy aos sete anos (personagem de Cate Blanchett na fase adulta). Para seus anos, é bem segura em cena e dribla os meninos com sua altivez.

O roteiro não surpreende tanto e chegar a lembrar, um pouco, o de 'A Vila' (2004), apesar de ter o final diferente, assim como o seu meio. Ao rodar uma cena do filme para concorrer no festival da cidade, os meninos vão à meia-noite à ferrovia. No meio da filmagem, um enorme acidente de trem acontece. E ele é provocado pelo professor Woodward (Glynn Turman), que, aparentemente, quer evitar algo. A partir daí, uma sucessão de desaparecimentos ocorrem e roubos de coisas também, como os fios de eletricidade.

Tudo em prol de auxiliar um monstro que só quer voltar para a casa. Então, Spielberg volta com a patota de fitas de extraterrenos como 'A. I.: Inteligência Artificial' (2001), 'Guerra dos Mundos', 'Contatos Imediatos de Terceiro Grau' (1977), mesmo que seja como produtor. Trata-se de um tema recorrente do cineasta, como é o do holocausto, em 'A Lista de Schindler' (1993) e 'O Resgate do Soldado Ryan' (1998). Contudo, em 'Super 8', Spielberg fez um filme pra ele, brincando de fazer arte, como se tivesse oito anos.

Com lugares-comuns e clichês pobres, o longa-metragem perde pontos ao querer ser 'adulto'. Há sequências emocionantes, como a final e o reencontro de Joe e Alice com os respectivos pais. E imitando a fala de Charles, vamos valorizar a produção. Veja por causa do sonho das crianças. De Spielberg, idem.

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Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 23/08/2011
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