Caímos numa cilada! (publicado originalmente em 16/8/2011)

Quando me perguntarem algum dia qual foi o pior filme de 2011, minha resposta será bem breve e rápida: 'Cilada.com'. É triste ver que um dos herdeiros de Chico Anysio, Bruno Mazzeo, tente ser na TV e no cinema o que não é e, tenho a impressão, jamais conseguirá ser: engraçado. Uma fita completamente sem graça, sem sal, sem pé e sem cabeça, além de recorrer a apelações de baixo nível e conter cenas com conteúdo estúpido. A direção de José Alvarenga Júnior (dos filmes dos Trapalhões, além dos 'Normais' 1 e 2 e 'Zoando na TV', outra porcaria) inexiste, porque o roteiro de B. Mazzeo e Rosana Ferrão chega a ser, em determinados momentos, escatológico. E a história é bem fraca, que envolve a internet e tecnologias.

Bruno (o próprio Mazzeo, numa criatividade enorme de nome) é flagrado quando trai Fernanda (a atriz Fernanda Paes Leme, outra luz de inventividade), a sua namorada, durante uma festa de casamento. Por vingança, ela publica na internet um vídeo no qual, ao ter relações sexuais com o ele, Bruno tem uma ejaculação precoce. E no mundo da atualização instantânea, o moço fica famoso e vira celebridade, mas a forma disto é a pior possível. Então, a única chance dele poder voltar para a sociedade dos bons machos é provar que é bom de cama. Para tanto, recorre a antigas namoradas e pede a elas a gravarem depoimentos em favor dele. Paralelamente a isto, ele se vira como pode para conseguir o sonhado perdão de Fernanda.

Tudo bem que Mazzeo e Fernanda tenham continuado a história da série de TV, com os mesmos nomes e tal. Mas eu fico pensando: gastar R$ 5,5 milhões para filmar esta legítima droga? Qual é a razão? Ao assistir à “comédia” (as aspas são propositais, pois não considero o longa uma trama de humor), daria tudo para entrevistar Chico Anysio e perguntar a ele a sua opinião sobre 'Cilada.com'. Como o Mestre dos Mestres da TV não tem papas na língua, com certeza falaria a verdade acerca da película, sem qualidade, e que o humor tupiniquim é tão bom quanto comer jiló com pimenta, tomando suco de limão azedo. Ser escrachado não é bom em nenhuma hora, ainda mais no cinema, merecedor de todos respeitos possíveis.

Aliás, a safra de humoristas nacionais tem sido péssima, sem exceção. E quando eles tentam fazer filmes de porte, garbo e elegância, caem no mesmo buraco de 'Cilada.com'. O ruim é que o público vai e assiste. Dá audiência a isto e sai da sala de exibição achando boa aquela historinha ainda. Aonde a gente vai parar? Ou será mesmo que a referência de qualidade está tão baixa assim que a consideramos a 'boa' do século 21? De minha parte, prefiro de coração Charles Chaplin, Buster Keaton, Chico Anysio, Ronald Golias, Walter D'Ávila, Costinha, Brandão Filho e a companhia limitada. Pessoas como Mazzeo, Leandro Hassum, Marcius Melhem, Ingrid Guimarães e Katiúcia Canoro não são comediantes. São enganadores.

Como bem disse Ariano Suassuna em sua passagem por Jacareí, existe diferença entre sucesso e o êxito. Daqui a 100 anos, Anysio, Golias, Keaton, Chaplin etc serão lembrados como lendas do humor. É o êxito. Melhem, Hassum, Canoro etc, ninguém saberá. Ou dirão: 'Quem eram esses mesmo?'. Este é o tal sucesso, que é repentino. Enfim, caímos numa cilada. O trocadilho é ruim, mas a fita merece isto de mim.

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Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 16/08/2011
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