Orgulho de ser brasileiro (publicado originalmente em 9/8/2011)
Diretor de novelas e seriados para a televisão, além de galã da Rede Globo dos anos 1970 e 1980, Marcos Paulo inventou de fazer do cinema tupiniquim cara e focinho do estadunidense. Mirou no assalto, realizado em 6 de agosto de 2005, ao Banco Central, no Ceará. Cerca de 30 pessoas participaram da ação, na qual quase R$ 165 milhões foram levados sem o disparo de tiros ou indícios de violência. Este pessoal entrou na instituição, roubou o dinheiro (três toneladas em sacos plásticos) e bateu a perna. Tudo isto por meio de um túnel de 84 m. de comprimento, burilado, estudado e cavado durante três meses de operação.
A intenção de Marcos Paulo, apesar de ser das melhores, progrediu pouco. Com roteiro de Renê Belmonte, baseado em argumento de Antônia Fontenelle – namorada do diretor –indo e vindo na trama, o resultado soou pretensioso, o nariz no céu. Além deste esquema de script, o conteúdo foi outro tópico que destoou bastante da qualidade aspirada. Frases feitas, clichês e lugares-comuns, típica de informações de almanaques, existem a exaustão em 'Assalto ao Banco Central' (2011), desde o dia 22 de julho em cartaz. Expressões do tipo 'camarão que dorme, a onda leva' enchem a fita de maus cheiros. Não precisava disso.
É importante saber: mesmo baseado em fatos reais, todos os personagens foram criados, incluindo os nomes, tipos físicos etc. Portanto, o líder dos malfeitores, Barão (o sempre bom Milhem Cortaz, mas já batido por tanto filme que faz), Mineiro (o atual mocinho da novela das nove, Eriberto Leão) e Carla (a linda Hermila Guedes), além dos demais, foram bolados pelo casal Marcos e Antônia. O elenco de apoio, impactante, é derrubado pelo desnutrido roteiro: Gero Camilo, Tonico Pereira, Giulia Gam, Lima Duarte, Daniel Filho, Antônio Abujamra, Fábio Lago, Heitor Martinez, Vinícius de Oliveira e Cadú Favero.
Misturar nomes graúdos com outros desconhecidos costuma dar bom caldo, pois os mais velhos apóiam os novatos. Em 'Assalto ao Banco Central' isto está longe de ocorrer. Tudo parece artificial e tem determinadas cenas desnecessárias ao contexto. Ao entraram finalmente na caixa forte do Banco Central, o trio Barão, Carla e Mineiro, em êxtase, apreciam aquelas notas de R$ 50, empilhadas e prontas a serem afanadas. Mineiro diz: 'É nessas horas que tenho orgulho de ser brasileiro.' Pois bem. Ao ver este filme, e por coincidência sábado passado, 6 de agosto (em 2005 o dia também era sábado), não senti este orgulho.
Esta não é a primeira vez do Brasil em longas metragens sobre crimes famosos. Em 62, o diretor Roberto Farias filmou 'Assalto ao Trem Pagador', com o irmão Reginaldo Faria no papel principal, ainda com Helena Ignez, Jorge Dória e Ruth de Souza no elenco. Quaisquer comparações com a aventura deste ano é mero presente do destino. 'Assalto ao Banco Central' salpica pitadas de humor, às vezes até ingênuo – principalmente usando Caetano, personagem de Fábio Lago. É querer pegar o espectador pela mão. Não dá certo. Fica a impressão de que o crime compensa, tudo é farra e são dias repletos de pura fanfarronice.
Chego a refletir sobre o desperdício de chamar o trio de ouro Lima Duarte, Antônio Abujamra e Daniel Filho para este trabalho. Há vida em suas sequências. Pelo menos isto. O restante é cinza, sem ar.
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