O legado de Fritz Lang (publicado originalmente em 26/7/2011)
A cidade congestionada de carros em estradas bifurcadas, pontes cheias de veículos e gente. Tudo cercado de prédios e arranha-céus, luzes do progresso e máquinas controlando cada setor do cotidiano. No canto, a empresa responsável por sustentar a população. Acima ficam os ricos e poderosos. Abaixo, todos os trabalhadores da fábrica, esta dominada por um magnata milionário e sem sentimentos. Os operários se matam pelo emprego. Suam, sofrem, penam e tem raras horas para o descanso. Porém, sob a superfície a alegria inexiste. É a Cidade dos Trabalhadores. Sobre ela fica o Jardim dos Prazeres, local onde os filhos dos capitalistas endinheirados desfrutam de felicidades, paz, harmonia e contemplações. Eis Metrópolis, controlada pelo empresário Joh Fredersen (Alfred Abel), cujo rebento, Freder (Gustav Fröhlich) se rebela contra o sistema e sai em busca de uma solução aprazível aos pobres funcionários. Ele conta com a forte ajuda de Maria (Brigitte Helm), a líder espiritual dos menos remediados. O famoso confronto rico contra pobre, o capitalismo versus o socialismo. É 'Metrópolis' (1927), enigmática e futurista fita de Fritz Lang.
Há controvérsias acerca do total da duração desta obra de arte. Quando o diretor F. Lang acabou a filmagem, claro, fez a versão final do roteiro, e tinha aproximadamente três horas de filme. Em passeios por Alemanha, Estados Unidos e, curiosamente, Argentina, as versões iam e vinham com minutos a mais ou a menos. A restauração demorou tempos, mas ao término da feitura tudo ficou perfeito: começo, meio e o fim. Com 1.100 extras, aquelas pessoas que perambulam no meio da trama, os figurantes, 'Metrópolis' custou à época 5 milhões de marcos. Quase levou a produtora Universum Film S. A. à falência. Todavia, a sua importância história vai além de valores. Ali nós temos um apanhado dos trinta anos do cinema até então. Fritz Lang contava somente 36 anos quando rodou o filme. Coisa de gênio. A visão de 2026, época em que se passa a história, contém diversas influências. Uma delas, presente no longa, é a Torre de Babel. A tal lenda da torre que esbarraria nas mãos de Deus foi reproduzida em tom de poesia pelo austríaco. Por falar em Áustria, 'Metrópolis' impressionou bastante o compatriota de Fritz Lang, o ditador Adolf Hitler.
No DVD, dentre os brindes aos fãs, há uma raríssima entrevista de Lang a um programa dos EUA em 1968. Confesso nunca tê-lo visto desta forma, em movimento. Vi-o somente em fotos, com o famoso monóculo no olho esquerdo. Na conversa, o cineasta conta sobre o convite de A.Hitler para que ele, Lang, fizesse filmes sobre o regime nazista. O artista recusou e, com medo de represálias, fugiu da Alemanha. Foi primeiro a Paris. Mais tarde, à terra do Tio Sam. Sua ex-esposa, Thea Von Harbou, aceitou trabalhar aos nazistas e ficou em solo germânico. Lang, que ainda na Alemanha faria o sucesso do Expressionismo 'M: O Vampiro de Dusseldorf' (1931), marcou a trajetória pelo impacto da arquitetura e cultura. Chegou a retornar à Alemanha na década de 1950 e a atuar, em 1963, na fita 'O Desprezo', do fã Jean-Luc Godard. Em 1976, aos 85 anos, praticamente cego, morreu em Los Angeles a 2 de agosto. O seu legado, sobretudo com 'Metrópolis' e 'M', marcou eternamente o nome no panteão das grandes figuras da nossa sétima arte.
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